Remake de Vale Tudo é boa ideia? Versão em espanhol da novela foi fracasso

Vale Todo, produzida em parceria entre a Globo e a Telemundo, contou a mesma história do folhetim original, mas frustrou expectativas

Por Guilherme Machado

Vale Tudo ganhou uma versão em espanhol na emissora Telemundo
Acervo/Globo/Divulgação

O anúncio de que a Globo planeja produzir remake da novela Vale Tudo (1988) dividiu opiniões. A trama, criada por Gilberto Braga e escrita por ele ao lado de Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, foi um sucesso estrondoso de audiência e mobilizou o país, sendo até hoje considerada uma das melhores novelas de todos os tempos. Por isso, os fãs têm expressado medo em se mexer com a obra, por medo que se estrague o material original.

O autor de novelas Alcides Nogueira, que trabalhou com Braga em folhetins como Pátria Minha (1995) e Força de Um Desejo (2000), expressou durante o lançamento do livro “Gilberto Braga: O Balzac da Globo”, de Mauricio Stycer e Arthur Xexéo, que acha péssima a ideia de se fazer uma nova edição de Vale Tudo, uma vez que já seria uma trama com lugar marcado na história brasileira.

Nas redes sociais, também existe uma clara divisão de espectadores, com diversas críticas à reedição do folhetim. Ao mesmo tempo, há aqueles que começam a brincar de escalar atores para o elenco da nova novela, enquanto as escalações de fato parecem já ter começado – segundo o jornal “O Globo”, Leandra Leal foi convidada para viver Helininha Roitman no reamke, papel que foi de Renata Sorrah na versão original.

Mas a despeito de todas as especulações, o fato é que Vale Tudo já recebeu o tratamento de remake, produzido inclusive pela própria Globo. Porém, esta versão se mostrou um verdadeiro fiasco.

Tratou-se de “Vale Todo”, uma novela em língua espanhola realizada em parceria com a Telemundo, emissora norte-americana voltada para o público latino. 

A narrativa unia atores de diversas nacionalidades latinas, como mexicanos, argentinos, cubanos e venezuelanos, apesar de ainda ser ambientada no Rio de Janeiro, tal qual a produção original. Aliás, o ator Antônio Fagundes, que viveu o protagonista Ivan na primeira versão, fez aqui uma participação especial como Salvador, o pai de Maria de Fátima, aqui interpretada pela mexicana Ana Cláudia Talancón.

A trama era basicamente a mesma e tinha como ponto de partida um golpe que Maria de Fátima dava em sua mãe, Raquel, aqui vivida pela mexicana Itatí Cantoral, famosa por ter sido a cruel e ensandecida vilã Soraya Montenegro na novela Maria do Bairro (1995). A famosa vilã Odete Roitman teve seu nome alterado para Lucrécia Roitman e ficou a cargo da atriz cubana Zully Montero.

Mas apesar das expectativas altíssimas, não houve sucesso. “Eles esperavam um estouro, mas, apesar de estar entre as cinco novelas mais assistidas da emissora, ela não foi”, declarou à Folha de São Paulo o autor Walther Negrão que foi chamado para supervisionar o texto a partir do capítulo 30 para tentar ajudar a levantar os índices de audiência da trama.

Uma das justificativas que se encontrou foi o fato de que a história seguia muito calcada nas questões do Brasil, sendo que desta vez estava sendo feita para um público mais amplo.

"Além disso, uma trama falada em espanhol que se passa no cenário do Rio causa um certo distanciamento. Se tivesse participado desde o início, iria ambientar a novela em Miami, mesmo que as gravações fossem aqui", complementou Negrão.

De fato, com a entrada de Negrão nos trabalhos, o teor político que sempre fez parte do texto de Vale Tudo foi atenuado e deu lugar a mais melodrama. 

Nada disso conseguiu fazer com que Vale Todo virasse sucesso. A novela, cuja cada capítulo custou cerca de US$ 63 mil dólares – mais de R$ 312 mil –, estava prevista para ter 150 capítulos e terminou com 100.

A experiência mostrou que, por mais bem sucedida que tenha sido a Vale Tudo original, se não toma o cuidado necessário para uma nova versão, nada garante que este êxito se repita.

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