Por que ficamos tão satisfeitos ao ver o Jacquin brigando? Especialistas explicam

Cozinheiro sempre vira meme após dar bons gritos com donos de restaurantes em Pesadelo na Cozinha

Stefani Sousa

Todo fã de Pesadelo na Cozinha sabe que coitado daquele que ousar desligar o freezer - é bronca garantida
Reprodução/Pesadelo na Cozinha

Erick Jacquin tem um superpoder na televisão: toda vez que aparece em algum programa, desperta a atenção de quem o assiste e causa algum tipo de sentimento. Acompanhá-lo em suas desventuras, salvando restaurantes do fracasso e provando receitas, já virou rotina para muita gente. Enquanto parte do público se diverte com as broncas e comentários do cozinheiro, há também quem o considera estressado demais. Não existe meio termo para o apresentador e, ao Portal da Band, especialistas explicam por que ficamos tão satisfeitos quando o assistimos gritando com alguém. 

Ao acompanhar histórias reais em Pesadelo na Cozinha, muitos aspectos do comportamento humano entram em jogo no reality e os personagens se tornam um espelho para os telespectadores. Do sofá de casa, é normal assistir às situações conflitivas de cada episódio e se emocionar junto, reviver dramas, rir e chorar

No caso do chef, seu jeito sincero, que fala o que pensa, não mede palavras e está sempre disposto a encarar qualquer coisa, é o que fascina os fãs. “Ele conecta quem o assiste com sua subjetividade e mostra que é importante viver a nossa agressividade e que isso é saudável. As pessoas lidam mal com os próprios sentimentos e, no programa, encontram eco para analisar como se comportam”, garante a Profa.Dra.Renata Runavicius Toledo, psicanalista. 

Ao relatar os problemas de um estabelecimento ou prato, Jacquin mostra a dificuldade do outro em receber críticas, agir com limitações, ser tolerante e empático. “Ao mesmo tempo, exemplifica como é ter que lidar com o impulso e com a falta de controle. Assisti-lo desperta o que há de mais e de menos nobre em nós, nos coloca para refletir sobre situações com figuras externas, como um chefe ou um pai”, acrescenta.

Especializado em dramaturgia,  Lucas Martins Néia, pesquisador do Centro de Estudos de Telenovela da ECA-USP, concorda que esse é o segredo do sucesso do chef. “Quem assiste aos programas, espera determinada personalidade do cozinheiro. Em dias e horários específicos, o espectador sabe que, se ligar a TV, vai encontrar seus memes e reações. Há um vínculo de proximidade e de expectativa. Se do nada ele ficar afável, pode haver decepção.”

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Para o telespectador, no subconsciente psicológico, o apresentador assume exatamente o papel de pai, daquele que aponta os erros, diz o que precisa mudar e, ainda assim, acolhe. Por isso, de acordo com a psicanalista, em diferentes situações, é comum colocá-lo como vilão ou herói. “Quando acompanhamos cada cena, nossas experiências pessoais estão presentes. Dependendo do momento de vida pelo qual passamos, podemos nos sentir avessos a uma briga ou apáticos. Temos também componentes sadomasoquistas e, por isso, surge a necessidade de apontar coisas.”

Ao mesmo tempo, às vezes tudo o que público quer é rir das travessuras de determinado personagem e apoiar as grosserias do chef, afinal tem dono de estabelecimento que merece. Portanto, se ao assistir a uma briga, você se sentir mais leve ou achar engraçado, não se preocupe! Pode ser como comer um chocolate que, associado pelo cérebro como algo prazeroso, libera hormônios de bem-estar. Se o chef fosse diferente, acredite, não o amaríamos tanto.

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