Teich sobre vacina de Oxford no Brasil: “Quem fez esse acordo fui eu”

Da redação, com Melhor Agora

Teich sobre vacina de Oxford no Brasil: “Quem fez esse acordo fui eu”
Reprodução

Convidado do ‘Melhor Agora’ desta segunda-feira, dia 30, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich analisou a situação da Covid-19 no Brasil e relembrou a autorização, em junho passado, dos testes clínicos da vacina de Oxford no País. “Quem fez esse acordo fui eu. E eu achei que ia ter mais repercussão do que teve. Ali, eu percebi como as pessoas não conseguiam entender qual era o impacto de uma vacina em uma situação como essa. Acho que, realmente, ter uma pessoa com uma visão médica faz diferença, porque ali eu via claramente que aquilo era a solução”, disse.
 

Segundo o médico e ex-ministro, sua ideia ao aprovar os testes clínicos por aqui era de que o Brasil fosse um dos primeiros a receber a vacina. “Eu vi a oportunidade de o País entrar, fazer parte dos estudos o que, automaticamente, na minha cabeça, levaríamos a ser um dos primeiros a receber a vacina, caso fosse eficiente para ser usada. Na época, ninguém falava em vacina direito, ninguém abordava o problema como agora.”


Ao citar a vacina do Instituto Butantã, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, Teich questionou a politização ao redor da mesma. “Política e polarização atrapalham (...), quando você tem instabilidade, desconhecimento e ansiedade o gestor tem que tomar a decisão com o que ele tem na mão.  E pode ser que ele tenha que rever coisas da sua conduta (...). Se é usado para criticar, para trabalhar lado pessoal e político, os ajustes ficam mais difíceis, porque é preciso colaboração para fazer isso. Então, nesse cenário, não ter colaboração e trabalho em equipe é muito ruim”.


Questionado sobre a forma como o Brasil tem conduzido o tratamento da Covid, Teich diz que ela é ineficiente. “Você não consegue ficar eficiente da noite para o dia, principalmente numa pandemia, numa doença aguda. Pro sistema ser capaz de conduzir numa forma adequada, ele já tinha que ser assim antes ou, então, tenta se ajustar o mais rápido que pode (...). Para mim, a forma como trabalhamos hoje é ineficiente”, disse. 


Teich ainda defendeu a testagem em massa e o distanciamento social. “Como eu coloquei lá atrás: a testagem é importante, mas é preciso coordenar um programa de distanciamento. O que fazemos hoje é ‘vai medindo’, se piora volta, se melhora, abre. Mas, você não está realmente conduzindo, não está na sua mão. Eu disse que queria criar um programa de distanciamento. Naquela época só queriam saber se eu era contra, ou não, ao lockdown, ninguém parava para te escutar realmente”, relembrou. “O que faz a diferença é não deixar as pessoas pegarem a doença (...). Se você afasta as pessoas, a contaminação cai. A Argentina fez um dos maiores lockdowns do mundo, mas ao reabrir, já passou o Brasil em mortalidade por milhão. Se você isola, mas não muda o que está fazendo, volta tudo.”


Para o médico, o nível de incerteza sobre o futuro da doença no Brasil é o mesmo de quando a pandemia começou. “Hoje, por mais que tenhamos grandes aprendizados, temos o mesmo nível de incerteza lá do início.” 
 

Leia abaixo outras respostas do ex-ministro da Saúde à Mariana Godoy: 


Cloroquina

“A gente não tem qualquer dado de que ela faça a diferença na evolução da doença.”


Quem já teve Covid fica imunizado?

“Não dá para ter essa certeza (...). Mesmo com a vacina, tem que ver se ela impede a doença, ou se impede a doença grave, se para, ou não, a transmissão... tem uma série de informações que a gente ainda não tem.” 


O fato do Brasil entrar no verão ajuda?

“Não assumiria isso. Manteria o mesmo cuidado. Já tivemos evolução dele [vírus] em temperaturas não tão frias. Enquanto não tivermos a doença controlada, tem que manter o  cuidado.” 

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