Onde está Pandora, a cachorrinha que 'se perdeu' no aeroporto e mobilizou o país

Por Juliana Finardi

Reinaldo sonha em manter uma família multi-espécies com 50 cãezinhos
Juliana Finardi

Quem não se lembra dos intermináveis 45 dias em que Reinaldo Júnior manteve-se incansável e mobilizou o país inteiro nas buscas pela Pandora, a cachorrinha que ‘se perdeu’ no aeroporto de Guarulhos durante uma escala em São Paulo?

Dois anos após a saga que envolveu grupos de defesa dos animais, imprensa, artistas, políticos, companhias aéreas, discussões sobre o transporte de pets no compartimento de cargas dos aviões e a relação entre animais de estimação e humanos, a Pandora e o humano ainda sofrem as consequências do fatídico dia em que a cachorrinha teve a caixa de transporte aberta e partiu rumo a jornada mais longa e estressante de sua vida.

Nesta semana, durante uma consulta de rotina no hospital veterinário Dr. Hato, em Santo André, no ABC paulista, os exames constataram que a doguinha continua positiva para a doença do carrapato, uma infecção grave causada por parasitas que atacam o sangue do cachorro, ‘herança’ que ela ganhou nos dias em que ficou desaparecida sabe-se lá onde.

O pai humano, Reinaldo, também carrega algumas consequências daqueles dias que mudaram para sempre os rumos da vida dos dois. Ele e a mãe Terezinha Branco permanecem morando e com a vida estacionada em Guarulhos à espera de outro final feliz nessa história: a vitória no processo de indenização e responsabilização da Gol Linhas Aéreas e da GRU Airport, empresa que administra o aeroporto de Guarulhos.

Reinaldo tem Pandora e Thor tatuados em seus braços (Foto: Juliana Finardi)

As imagens do dia e do que realmente aconteceu para que Pandora fugisse assustada de dentro de sua caixinha de transporte (que viajava no cargueiro do avião) continuam em sigilo de Justiça. O que não é segredo para ninguém são os planos de Reinaldo para o futuro: o tutor de uma das cachorrinhas mais amadas do Brasil sonha em ter 50 cães adotados, ganhar a vida cuidando dos pets e prestando assessoria para quem precisa transportar o animalzinho de estimação e não quer passar pelo mesmo perrengue que ele viveu lá em 2021. Bate na madeira!

Parte do sonho já começou a virar realidade. Hoje, além de Pandora, fazem parte da família outro vira-lata lindão, o Thor, e uma cadelinha Lulu da Pomerânia, a Gigi, resgatada de maus-tratos em um canil onde era mantida como matriz (aquelas cachorrinhas utilizadas para procriação e venda dos filhotes).

Além de ser patrocinada (com ração, banho e assistência médica) pelo hospital que cuida da saúde da cadelinha, Pandora já é influencer (@cade.pandora) no Instagram e já foi garota propaganda de restaurante, roupinha para cachorro e outros produtos.

A família cresceu: Thor e Pandora são a dupla dinâmica que alegra os dias da família; Gigi (que não aparece na foto) é a mais nova integrante da casa, além de um gatinho (Foto: Juliana Finardi)

Lembra dessa história?

Em dezembro de 2021, Reinaldo aparecia em todos os noticiários do país devastado pela notícia que recebeu assim que colocou os pés em São Paulo, mais especificamente no aeroporto de Guarulhos: o sumiço de sua filha canina, a Pandora, após um vôo que partiu de Recife e iria até Navegantes, em Santa Catarina, onde os dois ficariam por um mês antes de seguirem rumo à Suíça, país europeu no qual o humano tentaria melhorar a vida através de uma proposta de trabalho como chapeiro.

Mas, em um piscar de olhos, ou melhor, em um abrir e fechar de portinha da caixa de transporte onde Pandora viajava, tudo mudou. A partir daquele momento, a vida dos dois mudaria para sempre e tomaria rumos jamais imaginados pelo então garçom que trabalhava em um restaurante do Nordeste e um belo dia apaixonou-se pela vira-lata filhotinha que vivia a persegui-lo e que ele resolveu alimentar ali mesmo no estacionamento de seu local de trabalho.

O ano era 2021 e, no fatídico dia em que a escala em São Paulo virou um verdadeiro pesadelo para a família de Reinaldo (e logo em seguida para o Brasil inteiro), começou-se a discutir o transporte de animais em aviões. Com o mote, “animal não é carga”, iniciou-se uma campanha para que mudassem as leis que ditam as regras para o ir e vir de animais em voos nacionais e internacionais e para a responsabilização das companhias aéreas diante do sem número de casos que afetam pets e seus tutores quando o deslocamento terrestre é inviável.

Eu já conhecia Reinaldo e Pandora porque escrevi sobre a história dos dois assim que ela foi encontrada, em janeiro de 2022. Assim como todos os brasileiros, me sensibilizei com o caso porque quem tem pet sabe o quanto a perda do bichinho pode despedaçar o coração dos humanos e deixar um buraco jamais preenchido nem mesmo por outro animalzinho de estimação.

Ainda de máscara (estávamos em pandemia), conversei longamente com o Reinaldo em um dos bancos do hospital veterinário Dr. Hato, em Santo André, onde a cachorrinha permaneceu internada e ele me contou sobre os 45 dias mais exaustivos e impressionantes de toda sua vida. A história teve sequestro-relâmpago, pistas falsas, buscas incansáveis, muita fé e, enfim, um final feliz com a volta da Pandora para os braços do pai Reinaldo.

Reinaldo passou 45 dias em uma busca incansável pela filha canina (Foto: Juliana Finardi)

Corta para 2023

Nesta semana, para escrever o texto desta coluna, reencontrei os dois. Apesar de ainda testar positivo para a doença do carrapato, Pandora recuperou o peso que perdeu naquela época (dos 12 kg que pesava no dia em que foi reencontrada, hoje ostenta viçosos 26 kg) e está cada vez mais apaixonada e grata a Reinaldo por tanto amor e cuidados.

Em nota emitida pelo Hospital Veterinário Dr. Hato, o médico hematologista Felipe Chaguri diz que continua observando e acompanhando o exame de dosagem de anticorpos para a doença do carrapato e PCR para a mesma doença. “Esse tipo de exame mostra que o animal já teve contato com a bactéria e tem anticorpo produzido contra a doença. Então, no caso dela, depois do tratamento consideramos que o exame se manter positivo é o que chamamos de memória imunológica e é totalmente esperado e natural de acontecer.”

Enquanto ele conversa comigo, ela deita a cabeça no ombro do tutor, faz charminho e parece uma máquina de abanar o rabinho. Se já viveu perdida pelas ruas de Guarulhos vagando e tentando reencontrar o tutor, já nem se lembra mais! Você pode acompanhar os trabalhos e a vida da família nos perfis @cade.pandora e @reinaldojuniorpandora no Instagram.

Procurada, a Gol disse que não comenta ações judiciais.

Reinaldo e Pandora: amor incondicional entre humano e doguinha (Foto: Juliana Finardi)

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