Um vídeo que circula com imagens de urnas eletrônicas nas dependências de um sindicato fez com que funcionários do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) fossem ameaçados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Itapeva, interior de São Paulo.
O vídeo, divulgado em grupos bolsonaristas no Telegram e WhatsApp, mostra pessoas manuseando urnas eletrônicas no auditório do Sinticom (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção, do Mobiliário, Cimento, Cal, Gesso e Montagem Industrial) de Itapeva.
O conteúdo está sendo compartilhado por apoiadores do presidente como suspeita de que os aparelhos estariam sendo fraudados antes das eleições do próximo domingo, 2 de outubro.
No domingo (25), funcionários e trabalhadores terceirizados de um cartório eleitoral de Itapeva chegaram a registrar um boletim de ocorrência informando que foram intimidados por uma bolsonarista que entrou no espaço onde urnas eletrônicas estavam sendo preparadas e lacradas.
De acordo com o boletim de ocorrência, por se tratar de evento aberto ao público, por volta de 14h15 compareceu no recinto um grupo de pessoas, entre elas uma mulher que, “em tom agressivo, falava para todos os servidores e terceirizados, em tom de ameaça, ‘se o Bolsonaro não ganhar aqui em Itapeva no primeiro turno, vocês estão ferrados, o bicho vai pegar'”.
A mulher, segundo o documento, chegou a constranger os funcionários terceirizados questionando “quem contratou você, é de onde?”. Além de exigir a identificação de todos, perguntava “em quem vocês vão votar?”.
Os funcionários afirmam também que começaram a receber telefonemas anônimos após a circulação de um vídeo mostrando um procedimento de preparação de urnas eletrônicas no prédio da entidade.
Entre os bolsonaristas que compartilharam as imagens, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) questionou a legitimidade do processo, sugerindo que “a esquerda” e “setores do Poder Judiciário” estariam tramando para eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio de fraude no processo eleitoral.
O TRE-SP publicou nesta quarta-feira (28) em site oficial uma nota de esclarecimento sobre o procedimento de carga e lacração nas urnas eletrônicas em Itapeva.
O TRE explica que desde 2014 o cartório eleitoral de Itapeva realiza o procedimento de carga e lacração das urnas no sindicato, que fica ao lado do cartório, por falta de espaço físico.
O tribunal esclarece que os profissionais que atuaram no procedimento de lacração no Sinticom são terceirizados e foram contratados por meio de licitação pública.
Também afirma que qualquer cidadão ou cidadão poderá levantar dúvidas ou reportar eventual irregularidade observada na cerimônia de preparação de urnas, mas isso precisa ser feito “por escrito ao juízo eleitoral sem, no entanto, dirigir-se diretamente às técnicas, aos técnicos, às servidoras e aos servidores da Justiça Eleitoral, durante o exercício das suas atividades”