A Rússia anunciou ter conquistado a maioria dos votos no referendo pela anexação de quatro regiões ucranianas ocupadas pelo exército russo. O anúncio na madrugada desta quarta-feira (28) na Europa não é reconhecido pela comunidade internacional.
Entre sexta (23) e terça-feira (27), o Kremlin promoveu votações em Donetsk, Luhansk, Zaporíjia e Khelson para justificar a dominação das áreas que representam 15% do território ucraniano. O plebiscito é visto como uma forma de legitimar a ocupação neste locais e o governo de Kiev acusou a Rússia de ilegalidades no processo.
A porção entre o leste e o sul da Ucrânia forma um corredor terrestre entre a fronteira oficial russa e a península da Crimeia, área anexada por Vladimir Putin em 2014.
A operação militar contra o país vizinho já dura sete meses e o movimento de anexação dos territórios ocorre no momento em que as tropas ucranianas começam a reverter parte das derrotas sofridas. Países do Ocidente têm entregado armas para a Ucrânia.
Em entrevista para a tv estatal russa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse ser natural e de direito que Putin controle as regiões que votaram favoravelmente ao domínio russo.
Na sexta-feira (30), Vladimir Putin tem um discurso agendado nas duas câmaras do Parlamento da Rússia e é esperado que ele anuncie oficialmente a anexação destes territórios em disputa. A medida precisa ser aprovada pelos parlamentares, o que não será difícil com a maioria pró-Kremlin existente.
A moção de autorização para anexar as áreas seria votada, então, na próxima terça-feira (04/10).
Em comunicado distribuído à imprensa, Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, disse que a anexação de territórios inviabilizaria qualquer acordo para encerrar o conflito. As conversas de paz estariam atualmente paradas e não registraram progressos desde que o acordo para o escoamento da produção ucraniana foi assinado com a ONU, em julho.
O referendo e o anúncio do resultado favorável à Rússia acontece no momento em que aliados de Putin aumentam a retórica belicosa e abrem brechas para o uso de armas nucleares contra o país vizinho.
Na semana passada, o presidente russo citou o uso de todo o arsenal, inclusive o atômico, contra o “inimigo”. A fala foi reafirmada por Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.
Ele, que também é ex-presidente da Rússia, voltou a falar nesta terça-feira (27) no uso de armas nucleares e ironizou afirmando que o mundo não entraria em um “apocalipse nuclear” por conta da Ucrânia, indicando que aliados deixariam o vizinho sozinho no caso de um ataque.
Os Estados Unidos dizem já ter alertado a Rússia sobre o uso de armas nucleares e o papa Francisco também pediu paz e condenou o uso de arsenal atômico na guerra.