Safra de milho poderá reduzir preço da carne, leite e ovos para o consumidor

Com a estimativa de produção recorde do cereal, produtos de origem animal podem ter queda de preço nos próximos meses

Viviane Taguchi

Preços da carne bovina podem ter mais reduções nos próximos meses
Wenderson Araujo/Trilux/CNA

A expectativa de uma produção recorde de milho, na safra 2022/2023, pode beneficiar pecuaristas e consumidores brasileiros. Isso porque, junto com as quedas nos índices da inflação, em torno de 4% desde o início do ano, a maior produção do cereal pode impactar diretamente os preços de itens de origem animal como a carne bovina, leites, manteiga e ovos. O milho é o principal ingrediente das rações e a maior oferta do produto no mercado interno pode deixar o custo de produção (ração) mais acessível para o pecuarista e o preço final desses produtos, mais acessíveis aos consumidores.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu último levantamento da safra 2022/2023, projetou que a produção total de grãos no Brasil será em torno de 314 milhões de toneladas, um crescimento de 15% em relação à safra anterior. Só a produção de milho está estimada em 125,5 milhões de toneladas e essa informação já fez com que as cotações do cereal voltassem a ser iguais aos dos anos de 2018 e 2019, aliviando o custo de produção do pecuarista.

No caso da carne bovina, as quedas nos preços para o consumidor já estão caindo desde o ano passado, mas ainda estão longe de acompanhar a queda no preço do boi. De 2022 até agora, o preço da arroba do boi já caiu em torno de 22%, mas o preço da carne (para o consumidor) caiu apenas 4%, de acordo com a inflação. Segundo especialistas, isso tem a ver com o comércio exterior, com fatores importantes como a queda do dólar e maior confiabilidade da indústria brasileira, após o caso de “Mal da Vaca Louca” registrado em fevereiro.

Segundo Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa especializada em comércio exterior, agora, é a produção do milho que vai ajudar a puxar o preço para baixo. “O fator principal para a diminuição do preço da carne está ligado ao preço de grãos, que tiveram uma queda no valor este ano [por causa da maior oferta]. Nos últimos anos, os produtos se tornaram mais caros, principalmente com o impacto da Guerra da Ucrânia, fazendo com que o custo total para a pecuária ficasse mais cara naquele período. Desta forma, os produtores podem ter uma expectativa melhor para esse ano, até mesmo considerando a exportação da carne brasileira”, declarou o executivo.

Em maio, de acordo com o Centro de Estudos de Economia Aplicada (Cepea/USP), as cotações do boi gordo para abate e dos animais de reposição (entenda-se bezerros entre 8 e 12 meses) estão em queda. A pressão sobre os valores da arroba são reflexo do crescimento da oferta de animais prontos para abate, o que, por sua vez, está relacionado aos investimentos realizados em anos anteriores e, sobretudo, ao fim da safra e à piora da qualidade das pastagens. Por outro lado, os frigoríficos também estão comprando menos neste mês.

Mesmo com a queda, o Brasil ainda exportou 42,809 mil toneladas de carne bovina apenas na primeira semana de maio, segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). De 2020 até 2023, o preço da carne teve um aumento de 70%, fazendo com que a carne ficasse inacessível para muitos brasileiros. 

O conflito na Ucrânia encareceu o preço do milho porque o país é um grande produtor do cereal e, com a guerra, que fechou portos locais, houve uma redução na oferta mundial.

Esse cenário aponta que não é apenas a carne vermelha que pode ter uma queda no valor, mas as carnes de frango e de suínos, leite e ovos também devem ficar mais baratas nos próximos meses. “Com novas parcerias internacionais e com novos mercados a serem explorados, tal como maior certeza na exportação de carne para a China, podemos registrar uma queda do preço para o consumidor final este ano. Mas ainda depende do cenário externo e de soluções econômicas. Um exemplo disso é quando tratamos dos grãos, para mercados que anteriormente dependiam da importação do produto europeu”, completou Pizzamiglio.

Produção no campo em ritmo avançado

De acordo com a Conab, a produção total de milho no Brasil na atual safra será em torno de 125,5 milhões de toneladas, um aumento de 12,4 milhões de toneladas em relação a safra 2021/2022. Na primeira safra do grão, semeada em uma área de 4,4 milhões de hectares e com a colheita finalizada, o volume de produção atingiu cerca 27 milhões de toneladas, 8,1% acima da safra anterior, mesmo com os problemas climáticos registrados no Rio Grande do Sul. Já para a segunda safra é esperado uma colheita de 96,1 milhões de toneladas. A cultura já está semeada e cerca de 75% das lavouras se encontram em floração e enchimento de grãos.

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