Mutações genéticas são fatores de risco para parte dos casos de câncer de ovário

Pacientes com diagnóstico da doença têm recomendação de realizar avaliação genética

Dr. Henrique Helber

Maio é mês de conscientização sobre o câncer de ovário
Reprodução/CANVA

O câncer de ovário é o 3o câncer ginecológico mais comum no Brasil, atrás do câncer de colo de útero e câncer de endométrio e é o 8° tumor mais comum entre as mulheres.

Sobre os fatores de risco, é muito claro que a maior exposição aos hormônios femininos ao longo da vida de uma mulher traduz-se em aumento de risco de desenvolver a doença. 

Existem diversas maneiras pelas quais as mulheres podem ter essa exposição aumentada. Dentre elas, podemos citar a nuliparidade (as mulheres que não têm gestação ao longo de sua vida ou que têm apenas em idades mais avançadas), não amamentar, tratamento para fertilidade, terapia hormonal após a menopausa (principalmente naquelas que fazem reposição de estrogênio sem progesterona) e obesidade (claramente tem maior produção de hormônios femininos). 

Em contrapartida, estudos recentes demonstraram que o uso de pílulas anticoncepcionais leva a um menor risco de desenvolver câncer de ovário. O risco diminui quanto mais tempo os anticoncepcionais são utilizados. 

Sem dúvidas, os avanços na área genética permitiram melhorar o cenário da doença. Sabemos que cerca de 50% das pacientes com diagnóstico de câncer de ovário tem como principal causa fatores genéticos. Destacamos aqui as tão comentadas mutações nos genes BRCA 1 e 2 que conferem às mulheres portadoras um aumento bastante significativo na chance de desenvolver câncer de mama e ovário ao longo de sua vida. 

Tais mulheres que carregam este tipo de mutação têm indicação de retirar a glândula mamária e os ovários de forma profilática, isso é, sem ter desenvolvido câncer. Tal recomendação pode parecer agressiva, porém comprovadamente diminui mortalidade dessa população. Devemos nos atentar à história familiar e história pessoal de câncer das nossas pacientes e, ao identificar aquelas que potencialmente têm risco de carregar a mutação, devemos recomendar uma avaliação genética.       

Todas as pacientes com diagnóstico de câncer de ovário têm de realizar avaliação genética, que vai se traduzir em aconselhamento familiar e uso de estratégias específicas direcionadas para mutação.

Atualmente sabemos que, infelizmente, a maioria das mulheres com câncer de ovário são diagnosticadas em um estágio avançado da doença. Isso ocorre pois a doença geralmente causa sintomas por compressão de órgãos adjacentes, momento em que ela já saiu do ovário e migrou para outras regiões do corpo, principalmente o peritônio, que é uma camada de gordura que recobre os órgãos abdominais.

Dessa forma, pesquisadores do mundo todo tem se esforçado para tentar, de alguma forma, aumentar a porcentagem de diagnósticos precoces e consequentemente melhorar a sobrevida dessas pacientes. Foram divulgados estudos que testaram a estratégia de se dosar o marcador tumoral Ca125 e submeter as pacientes a ultrassonografia transvaginal de forma periódica. Esses são exames de baixo custo e de fácil acesso. 

Esses estudos mostraram que o rastreio com tais exames não se mostrou eficaz no sentido de diminuir mortalidade das pacientes, além de que levou a grande quantidade de resultado falso positivo, que por sua vez levaram a outros exames e procedimentos desnecessários e invasivos. Portanto esses exames falharam em propiciar benefício de diagnóstico precoce com consequente redução de mortalidade para pacientes com neoplasia de ovário.

Para aquelas mulheres que sabidamente têm um grande risco de desenvolver câncer de ovário, como por exemplo as portadoras de mutação BRCA, alguns autores advogam que se realize exames anuais como a ressonância magnética para diagnóstico precoce nessa população. Entretanto ainda não há nenhum grande estudo que embase essa estratégia na prática clínica.                          

As pesquisas não devem parar no sentido de encontrar melhores maneiras de se rastrear o câncer de ovário e consequentemente diminuir a mortalidade das pacientes com esse diagnóstico. 

Na falta de exames de rastreio efetivos que ajudem essas pacientes, a principal estratégia no combate ao câncer de ovário concentra-se no investimento em tratamento. Nesse sentido, temos tido grandes avanços nos últimos anos.

Em primeiro lugar, devemos deixar claro que a cirurgia é de enorme importância e desta forma é fundamental que seja realizada em centros com grande experiência e que seja realizada por cirurgiões especializados nesse tipo de tratamento. Ela consiste na retirada de todo o aparelho ginecológico e toda doença visível no peritônio. Posteriormente faz-se quimioterapia na tentativa de eliminar potenciais células tumorais que sejam macroscopicamente invisíveis.

Depois da quimioterapia podemos lançar mão de medicações de manutenção, que são empregadas por um período de tempo longo (geralmente entre ano e meio e 3 anos após a quimioterapia). Neste sentido podemos destacar como um grande avanço e mudança de paradigma da doença o surgimento dos inibidores de PARP, que já têm aprovação da ANVISA e foram incorporados no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde), porém ainda não são usados rotineiramente no SUS. 

Tal classe de medicação atua especificamente em enzimas responsáveis por corrigir defeitos no DNA. Sua principal indicação concentra-se naquelas pacientes que têm mutação nos genes BRCA 1 e 2, e naquelas que não têm a mutação, porém perfazem os 50% dos cânceres de ovário com alterações genéticas, 

Por último, pesquisadores têm se esforçado para encontrar algum cenário em que a imunoterapia se apresente eficaz no tratamento de câncer de ovário. Até o momento tivemos apenas resultados modestos com esse tipo de estratégia, porém este ainda é um campo com espaço para novas pesquisas.

É importante lembrar que todas as mulheres devem manter hábitos saudáveis de vida, independente da causa do câncer. Essa é a principal medida para prevenção de qualquer tipo de tumor.

Evitar situações de risco, como a obesidade, controlar adequadamente a pressão arterial e o diabetes, estabelecer dietas pobres em gorduras animais e ricas em frutas e vegetais, praticar exercícios físicos regularmente e evitar maus hábitos como tabagismo e etilismo são medidas preventivas que diminuem o risco de desenvolver qualquer tipo de câncer. 

Acredita-se que pelo menos 30% a 40% de qualquer câncer diagnosticado estejam relacionados a estes fatores de risco que são modificáveis com mudança do estilo de vida. Já está mais que comprovado também que mudar os hábitos após o diagnóstico de um câncer aumenta as chances do paciente se curar deste tumor e evitar uma recidiva da doença.

Dr Henrique Helber é oncologista clínico no Hospital Israelita Albert Einstein, Hcor e Hospital Municipal Vila Santa Catarina, em São Paulo; é integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer

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