Esquema de vacinação em dose única contra o HPV é eficaz

Oncologista explica decisão do Ministério da Saúde, que pretende intensificar proteção contra o câncer de colo de útero e outras doenças ligadas ao vírus

Dra Débora Dornellas

Brasil adota esquema de vacinação em dose única contra o HPV
foto: ilustração

O Ministério da Saúde anunciou, no início do mês, que a vacinação anti-HPV (papilomavírus humano) no Brasil passa a ser em dose única e contemplará meninos e meninas até os 19 anos. 

Até então a vacina anti-HPV quadrivalente era administrada no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninos e meninas dos 9 aos 14 anos em 2 doses, e para homens e mulheres, dos 9 aos 45 anos, que vivem com HIV, transplantados ou pacientes oncológicos em 3 doses. 

Um questionamento é sobre o motivo pelo qual o Ministério da Saúde adotou esta medida de reduzir o número de doses e se ela é realmente eficaz. 

Para isso, precisamos lembrar que, desde 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um novo plano para a erradicação do câncer de colo de útero focado na vacinação contra o HPV, que já incluía a possibilidade da vacinação em dose única para meninos e meninas dos 9 aos 14 anos, visando uma cobertura vacinal de 90% das crianças e adolescentes nesta faixa etária. 

Isto porque o Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Imunização (SAGE) da OMS avaliou as evidências que têm surgido ao longo dos últimos anos, de que os esquemas de dose única proporcionam uma eficácia comparável aos regimes de duas ou três doses. 

Esta descoberta passou a ser um divisor de águas na prevenção contra o HPV, visto que com um menor número vacinas será possível a proteção eficaz, garantindo uma cobertura mais ampla e maior aderência a vacina. 

Além disso, no Brasil foi ampliada a cobertura da vacina para meninos e meninas até os 19 anos, o que fará com que adolescentes que perderam a oportunidade da vacinação antes, sejam vacinados. 

O Brasil não foi o primeiro a adotar o esquema de dose única para a vacinação anti-HPV. Após a OMS alterar as suas orientações sobre a vacina contra o HPV para apoiar um regime de dose única em dezembro de 2022 e a Organização Pan-Americana da Saúde em setembro de 2023, os países começaram a se mobilizar para implementar esta prática. 

Dezenas de nações ao redor do mundo estão realizando a mudança para um regime de dose única.

Uma das metas do plano da OMS é que 90% das meninas e meninos sejam vacinados antes 9 e 14 anos e o Brasil ainda não a alcançou. Um estudo da Fundação do Câncer, com dados de 2013 a 2020, mostra que 76% das meninas nesta faixa etária tomou a primeira dose e apenas 56% tomaram as duas doses da vacina anti-HPV. 

Entre os meninos os números são ainda menores, com apenas 52% vacinados com a primeira dose em 2022. Em 2023 foram vacinadas mais de 5,6 milhões de pessoas contra o vírus, o maior número desde 2018, com aumento de 42% em relação a 2022. 

O objetivo principal desta mudança do esquema vacinal para apenas uma dose é alcançar o maior número possível de crianças e adolescentes vacinados em uma fase em que há maior eficácia da vacina (antes do início da atividade sexual). 

A dose única implicará na redução dos custos do imunizante, implementação simplificada e maior alcance e adesão da vacinação, aumentando a cobertura com a mesma porcentagem de proteção contra cânceres atribuídos à infecção por HPV.

Débora Dornellas é oncologista clínica no Hospital Israelita Albert Einstein e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer

Referências

https://www.who.int/publications/i/item/who-wer9750-645-672

Villa et al, 2023. HPV vaccination programs in LMIC: is it time to optimize schedules and recommendations? DOI: doi.org/10.1016/j.jped.2022.11.01

https://media.path.org/documents/Single-Dose_HPV_Vaccination_Evidence_Fact_Sheet_November_2023_EN.pd

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