O Julho Verde é uma campanha de conscientização fundamental para alertar sobre o câncer de cabeça e pescoço, um conjunto de neoplasias malignas que pode afetar diversas partes do corpo, incluindo a cavidade nasal, seios da face, lábios, glândulas salivares, ossos do complexo craniofacial e laringe. O tratamento após o diagnóstico pode envolver cirurgia, quimioterapia e radioterapia, cada um com seus próprios desafios e implicações para a qualidade de vida do paciente.
Para diminuir a probabilidade de desenvolvê-lo, podemos adotar cuidados diários que incluem evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, usar protetor solar regularmente para proteger a pele da exposição ao sol, manter uma dieta equilibrada e praticar boa higiene bucal.
Além disso, a vacinação contra o HPV é uma medida preventiva eficaz, especialmente para jovens. Realizar exames de rotina e consultas regulares com profissionais de saúde também é crucial para a detecção precoce e o manejo adequado de possíveis fatores de risco.
Atuando em um Centro Oncológico, é possível perceber que o impacto emocional do câncer de cabeça e pescoço vai além da autoestima e da autoimagem. Pacientes enfrentam uma série de desafios emocionais, incluindo ansiedade, depressão, medo de recidiva, alterações na identidade pessoal e social, além de estresse pós-traumático.
A desfiguração física e a alteração das funções básicas, como fala, deglutição e respiração, podem levar a um sentimento de vulnerabilidade e perda de autonomia, exacerbando sentimentos de desamparo e desesperança.
É fundamental que os profissionais de saúde, incluindo psicólogos especializados em psico-oncologia, abordem esses aspectos de maneira integrada. A literatura nos mostra que o coping, ou enfrentamento, é fundamental para pacientes oncológicos, pois ajuda a gerir o estresse e as emoções decorrentes do diagnóstico e tratamento do câncer.
Estratégias de coping eficazes incluem manter conexões sociais, o estabelecimento de objetivos realistas, e a manutenção da espiritualidade, que pode fornecer conforto e sentido durante o tratamento.
Outras formas de enfrentamento incluem o envolvimento em atividades manuais ou hobbies, a prática regular de exercícios físicos adaptados à realidade do paciente, a participação em grupos de apoio, o uso de técnicas de mindfulness e meditação, e o desenvolvimento de uma rotina que inclua momentos de autocuidado dentro do que é possível.
No contato diário com o paciente e buscando ser sensível às múltiplas demandas emergentes, entendo que incluir todos esses pontos pode parecer uma tarefa difícil, tendo em vista o contexto de tratamento que envolve muitos desafios. Então, a pergunta a se fazer é: dentro do meu possível, o que eu consigo fazer?
Cuidar dos pontos citados acima pode proporcionar um senso de normalidade e continuidade. Essas estratégias podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, permitindo-lhes se adaptarem às novas realidades de forma gradual e saudável, reduzindo o sentimento de perda de controle e promovendo um ajuste positivo.
A educação sobre a doença e o envolvimento da família no processo de tratamento são componentes essenciais para a resiliência emocional dos pacientes. É fundamental que as famílias recebam orientação adequada para entender as necessidades dos pacientes e saibam como oferecer apoio de maneira eficaz e empática. A comunicação aberta entre o paciente, a família e a equipe de saúde pode melhorar significativamente a adesão ao tratamento e a qualidade de vida.
Aqui estão algumas perguntas que os pacientes e suas famílias podem fazer à equipe de saúde para melhorar a compreensão e o manejo do tratamento:
- quais são os possíveis efeitos colaterais do meu tratamento e como posso gerenciá-los?
- existem opções de reconstrução para minimizar os impactos estéticos das cirurgias?
- como posso melhorar minha nutrição durante o tratamento para manter minha energia e saúde?
- quais exercícios são seguros para mim durante o tratamento e a recuperação?
- como posso acessar apoio psicológico durante o meu tratamento?
Enfrentar o câncer de cabeça e pescoço é uma jornada complexa que envolve muito mais do que o tratamento médico. O acompanhamento psicológico, o apoio da família e a integração de práticas complementares são elementos essenciais para uma abordagem holística e eficaz.
Como sempre enfatizo em minhas discussões, “o sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida”, como disse Elisabeth Kübler-Ross. Buscar apoio é um sinal de força e autocompaixão. O cuidado abrangente e o suporte emocional contínuo são fundamentais para navegar por essa jornada desafiadora.
Danilo de Freitas Maciel é psicólogo clínico e hospitalar, especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital São Luiz - Rede D'Or. Atualmente é psicólogo Hospitalar no Hospital Cruz Azul Saúde e Educação, sendo responsável pelo Centro Oncológico.
CRP: 06/163055
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Referências:
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