O câncer de canal anal é frequentemente associado a infecção crônica pelo HPV, e em pacientes portadores de HIV, o risco é maior. Estudos demonstram que o câncer de canal anal ocorre em homens que se relacionam com homens (HRH), portadores de HIV, em até 85 vezes mais do que observado na população geral (85 casos por 100.000 pessoas/ano versus 1–2 por 100.000, respectivamente).
De modo bastante evidente, o câncer de canal anal também é mais comum em pacientes portadores de HIV no geral, inclusive nos casos em uso de terapia antirretroviral (TARV) e com contagens normais de CD4+ (as células atingidas pelo vírus HIV), tanto para homens como para mulheres.
De modo frequente, o câncer de canal anal apresenta lesões pré-existentes, como as neoplasias intraepiteliais (NIA), que têm diferentes graus de agressividade. As lesões de alto grau (HSIL) possuem maiores riscos de progressão maligna.
As pessoas portadoras de HIV apresentam maior risco do desenvolvimento de HSIL, provavelmente relacionado a imunossupressão adquirida, e alguns estudos sugerem que o uso de TARV reduz o risco de desenvolvimento dessas lesões.
Um estudo recente muito importante chamado ANCHOR, demonstrou que o tratamento de HSIL e pacientes portadores de HIV reduz significativamente o risco de progressão para câncer de canal anal, mais de 50% de redução de risco. Atualmente diversos guidelines e consensos recomendam o tratamento local rotineiro dessas lesões.
O tratamento do câncer de canal anal envolve terapias locais como excisão, para tumores bastante inicias, ou terapias multimodais como quimioterapia associado a radioterapia, nos casos de doença não passível de ressecção.
Dados demonstram que o tratamento para pacientes portadores de HIV deve ser feito do mesmo modo que o tratamento para populações não portadoras de HIV, apenas com atenção especial a TARV e a imunidade.
Com as estratégias de tratamento multimodal, as chances de cura são também promissoras, como na população em geral.
Leitura adicional: Palefsky, Joel M., et al. "Treatment of anal high-grade squamous intraepithelial lesions to prevent anal cancer." New England journal of medicine 386.24 (2022): 2273-2282.
Pedro Uson é oncologista no Hospital Israelita Albert Einstein e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer