Corrida de rua exige cuidados extras com o coração

Não basta apenas um bom tênis; são necessários exames para avaliar os riscos de doenças cardiovasculares

Por Paula Marolo

Tradicional Corrida de Rua de São José dos Campos
Claudio Vieira/PMSJC

Na vida agitada de Luiz Argila, 69, a corrida mudou completamente os hábitos do dia a dia. O cigarro ficou no passado, a alimentação se transformou e o stress virou raridade. Os treinos preencheram boa parte da rotina e o hobby virou uma nova profissão, mas uma preocupação importante foi deixada um pouco de lado: a saúde do coração. 

O primeiro infarto de Luiz, que hoje é treinador de corrida, aconteceu após uma meia maratona. Ele já havia passado por exames que indicavam alterações cardíacas e sabia que deveria investigar mais a fundo. Entretanto, com a prova marcada, adiou o retorno ao médico. Sentiu dores no fim da prova e não imaginou que fosse um infarto, mas saiu do hospital com três stents no coração.

“Eu sabia que tinha algum problema por um exame de teste de esforço na esteira. O médico disse que eu tinha uma isquemia e precisaria fazer mais exames. Só que não deu tempo, enquanto aguardava a liberação de convênio, eu fui para a prova. Fui dirigindo para o hospital, já sabia que tinha alguma coisa errada mesmo, né?”, relata Luiz.

O cardiologista Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas, explica que durante uma corrida o coração aumenta sua frequência cardíaca e a capacidade de contração. 

“Imagine que no repouso o coração bombeia algo em torno de 5 a 7 litros por minuto e no exercício essa capacidade vai aumentar em 4 a 5 vezes. Isso acontece por conta de um ajuste do sistema nervoso autonômico que reconhece a atividade física e aumenta o retorno venoso, ou seja: o coração aumenta a sua capacidade de contração bombeando mais sangue”, diz.

O aumento do número de corredores amadores tem despertado a atenção da comunidade médica. Se por um lado esse fenômeno é celebrado por estimular o exercício físico, por outro, especialistas alertam para a importância de manter os exames em dia, sobretudo antes de iniciar qualquer prática esportiva, mesmo que esporádica.

Luiz Argila é treinador de corrida de Zélia Duncan (Foto: Arquivo Pessoal)

 “Se você tem uma artéria entupida, ou uma predisposição para arritmia, quando você coloca o seu corpo num nível de estresse muito grande, somente nos finais de semana, você pode predispor a um problema que você às vezes tem e não sabe”, explica a cardiologista e especialista em Medicina do Esporte do Hcor, Cristina Milagre.

Hora de procurar o cardiologista

Uma pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo apontou que 23% da população nunca fez exames cardiológicos. O momento certo de procurar um cardiologista depende do histórico familiar, idade e fatores de risco, como diabetes, colesterol e hipertensão. 

“Em termos de exames diagnósticos, o eletrocardiograma a gente sempre vai fazer, o teste de esforço, que é o teste ergométrico, e o ecocardiograma também é um exame que a gente solicita para avaliar a estrutura do coração”, explica a cardiologista. 

Depois do primeiro infarto, Luiz ainda teve outro episódio também após uma prova. Ele tem diagnóstico de cardiopatia grave e uma das principais recomendações médicas é não parar a atividade física. 

“Eu sempre corria com frequencímetro. Eu não deixo o coração “apanhar”. Meu coração bate normal dentro das frequências já estabelecidas em teste. As pessoas esquecem que o coração tem que ser controlado. Eu acho que estou vivo de até agora porque sempre controlei a minha frequência cardíaca desde o meu primeiro infarto”, explica

O currículo de provas ao longo de mais de 30 anos de dedicação a corrida impressiona. Ao todo, Luiz participou de 3 ultramaratonas, 15 maratonas e mais de 50 meias maratonas. Além de corridas de aventura e até montanha.

60 km com 60 anos: comemoração de aniversário foi correndo (Foto: Arquivo Pessoal)

O cardiologista Fagundes explica que a indicação de não praticar exercícios físicos praticamente não existe, pois, o repouso é prejudicial e compromete mais do que a atividade física, mesmo em pessoas com doenças cardiovasculares. O treinamento direcionado pode aumentar a capacidade física, facilitar o tratamento da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com cardiopatias. 

Mortalidade das doenças cardíacas

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil, superando em duas vezes os óbitos causados por câncer e três vezes os de doenças respiratórias, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. São 400 mil mortes por ano, e estima-se que 14 milhões de brasileiros convivam com alguma condição cardiovascular.

O cenário global também é alarmante: de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 17,9 milhões de pessoas morrem anualmente por doenças cardiovasculares, o que representa 31% de todas as mortes no mundo. Mais de três quartos desses óbitos ocorrem em países de baixa e média renda.

Diante desse cenário preocupante, o Dia Mundial do Coração (29) alerta sobre a importância da prevenção e atenção aos fatores de risco, como hipertensão, diabetes e colesterol. 

A Band exibiu a série especial Coração Alerta, que abordou a importância da prevenção e os avanços da cardiologia no Brasil. A série de quatro episódios mostrou como as pessoas convivem com problemas cardíacos, as inovações nos exames e tratamentos, e a influência da má alimentação na saúde do coração. 

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