Apesar da fabricação, importação e comercialização proibida no Brasil pela Anvisa, os cigarros eletrônicos estão cada vez mais populares, principalmente entre os mais jovens no país. Sem regulação, os famosos ‘vapes’ são vendidos livremente pela internet e nas lojas e já invadem o ambiente escolar.
O último relatório da Organização Mundial de Saúde sobre o uso de vapes mostra um dado preocupante: ao menos 32% dos jovens de 15 anos usaram cigarros eletrônicos na vida. Entre a faixa dos adolescentes de 13 anos, a proporção é de 16%. No ambiente escolar, o vício em cigarros eletrônicos já é sentido por professores e coordenadores.
Nas redes sociais, há diversos relatos de equipes ‘apreendendo’ vapes, crianças no fundamental II se organizando para comprar cigarros do tipo e até brigas pelo item. Nas últimas semanas, a deputada estadual Andréa Werner (PSB), viralizou após divulgar a imagem de uma apreensão de vape que um diretor fez em uma escola pública.
No final de agosto deste ano, um aluno da escola estadual Francisco Borges Vieira, na Zona Leste de São Paulo, foi filmado sendo espancado após uma briga motivada por um vape.
Após as agressões, a secretaria de Educação do estado inseriu os alunos envolvidos no Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva) e um boletim de ocorrência foi registrado. Em escolas particulares, a situação não é diferente.
Para a Band, docentes afirmam que os cigarros eletrônicos são populares entre o fundamental II e o ensino médio, entre as idades de 11 e 17 anos. Se não conseguem pegar ou encontrar os cigarros, não podem fazer nada e que, muitas vezes, o uso é escondido pelos alunos.
Uso por menores de idade atrapalha desenvolvimento do pulmão
Além dos riscos conhecidos do cigarro eletrônico, como enfisema pulmonar e câncer, nos menores de idade os problemas se agravam, já que o pulmão está em desenvolvimento.
O pneumologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Fábio Arimura, afirma que crianças e adolescentes podem desenvolver problemas graves que ocorrem muitas vezes na terceira idade. “O pulmão se desenvolve até por volta dos 20 anos. Se ele é exposto a agentes como o vape, ele não se desenvolve adequadamente, e pode levar a problemas graves, mesmo no adulto jovem. Sem contar que piora o controle respiratório de quem é asmático, por exemplo”, explica.
“É possível que possamos ter uma geração, que pela primeira vez na história, vai viver menos que os pais”. - Fábio Arimura.
Dentre as substâncias conhecidas do cigarro eletrônico, estão o propilenoglicol, usado em carros, além de formol, ferro, níquel, chumbo e a famosa nicotina, presente em cigarros convencionais.
“Os menores podem se intoxicar pela ingestão, inalação ou absorção inadvertida pela pele do líquido que contem nicotina usado no cigarro eletrônico”, pontua Pedro Genta, pneumologista da Beneficência Portuguesa.
Vapes também podem causar problemas no desenvolvimento neurológico
Pedro Genta explica que os problemas do vape vão muito além do pulmão. “A nicotina pode afetar o desenvolvimento de partes do cérebro em desenvolvimento, responsáveis pelo humor, aprendizado e controle de atenção e impulsividade. A dependência a nicotina que o cigarro eletrônico costuma provocar também pode ser o gatilho para o tabagismo de cigarros convencionais e uso de outras substâncias”, afirma.
Para os adolescentes, o problema da dependência dos vapes também é o déficit de aprendizado e problemas na saúde mental. “Não se sabe o impacto neurológico a longo prazo, mas é esperado que traga sequelas”, diz Fábio Arimura, pneumologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, que indica outros fatores para a piora na saúde mental dos jovens.
“As crianças e adolescentes estão mais ansiosos, com déficit de atenção, com dificuldade de concentração, mas acredito que seja por uma soma de fatores: muita informação, telas em excesso, estímulos luminosos e sonoros. O cigarro eletrônico se soma a isso tudo”, afirma.