O câncer de próstata, por definição, é uma doença que na maioria das vezes é indolente, que, em outras palavras, significa que se desenvolve lentamente, podendo não causar sintomas, tampouco dados para a saúde geral. De fato, muitos casos confirmados de tumor maligno na próstata não precisam ser imediatamente tratados e entram na chamada vigilância ativa. Em meio a isso, espera-se que a taxa de mortalidade por câncer prostático seja baixa, não é mesmo? Em parte, a resposta é sim. Por outro lado, os números também causam preocupação.
Ao olharmos os números da Organização Mundial de Saúde (OMS), a observação é que o câncer de pulmão, o mais letal no sexo masculino, resulta em quatro vezes mais mortes anuais que o câncer de próstata. Por sua vez, o dado que deve servir de alerta é, quando comparamos as mortes registradas em 2022 com mortalidade projetada para o ano de 2030, a conclusão é que haverá um aumento superior a 20% na mortalidade por tumores prostáticos.
Comparativamente, a população mundial saltará, no mesmo período, de 7,9 bilhões para 8,5 bilhões de pessoas, o que representa um aumento de 8%. Portanto, a projeção é que a mortalidade por câncer de próstata crescerá até 2030 com velocidade 2,5 vezes maior que o tamanho da população mundial.
Buscando respostas inicialmente no papel da campanha Novembro Azul, é evidente que se trata de uma importante oportunidade de se disseminar as principais mensagens-chave sobre câncer de próstata para a população. No entanto, quando comparamos com outras campanhas, vemos que o engajamento é inferior. Em estudo liderado pela Universidade de Stanford, a conclusão foi que as pessoas demonstram um interesse reduzido por câncer de próstata e que novas técnicas de comunicação são necessárias para atingir efetivamente as populações de risco.
A realidade que temos é que o Brasil está dentro da média mundial, com projeção de 20,3% mais mortes por câncer de próstata de 2022 a 2030. Considerando também os outros tumores do aparelho reprodutor masculino, a projeção para o mesmo período é de 19,3% a mais de mortes por câncer de pênis e 3,5% por câncer de testículo. A mudança dessa rota passa pela quebra de tabus do público masculino relacionados a seus cuidados com a saúde, com vistas ao diagnóstico precoce, que aumenta as chances de sucesso do tratamento.
Indo além da campanha Novembro Azul, mensagens-chave precisam ser disseminadas ao longo de todo o ano para a população. Diante do tema câncer de próstata, a primeira questão em pauta deve ser o estímulo à adoção de hábitos saudáveis, como não fumar, não consumir bebidas alcoólicas e evitar a obesidade com prática de atividade física e alimentação equilibrada, rica em frutas e verduras e sem consumo de alimentos ultraprocessados.
É importante também ficar atento aos potenciais sinais iniciais da doença e procurar um médico no caso de alguns dos sintomas persistirem por mais de duas semanas como dor ou ardência ao urinar, dificuldade para urinar ou para conter a urina, fluxo de urina fraco ou interrompido, necessidade frequente ou urgente de urinar, dificuldade de esvaziar completamente a bexiga, presença de sangue na urina ou no sêmen, dor contínua na região lombar, pelve, quadris ou coxas e dificuldade em ter ereção.
A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens a partir de 50 anos de idade consultem anualmente um médico urologista para avaliação. Homens negros ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar com essa consulta médica mais cedo, aos 45 anos.
Câncer de pênis - As principais medidas preventivas contra o câncer de pênis são lavar o órgão com água e sabão (incluindo a glande). No caso de fimose é importante tratar, porque essa condição aumenta em quatro vezes o risco de surgimento de lesões malignas na glande e prepúcio. Além disso, é recomendável realizar o autoexame do pênis pelo menos uma vez ao mês, para identificar, precocemente, eventuais lesões de aspecto suspeito.
Outra medida é aderir à vacina contra o vírus HPV (o imunizante está disponível no SUS) e sempre usar proteção nas relações sexuais. Em caso de câncer de pênis, o diagnóstico na fase inicial da doença aumenta as chances de sucesso do tratamento e diminui o risco de amputação do pênis.
Entre os sinais de alerta para a o câncer de pênis estão dor, mudança na cor e textura da pele do pênis, crescimento ou lesão semelhante a verrugas que podem ou não ser dolorosa, coceira, ferida que não cicatriza, erupção avermelhada, inchaço, corrimento persistente e com cheiro forte e linfonodos inchados na virilha.
Câncer de testículo - A maioria dos casos de câncer de testículo ocorre entre as idades de 15 e 50 anos, sendo mais comum na faixa dos 15 aos 34 anos. A raça também é um fator a ser considerado, uma vez que os homens brancos têm de 5 a 10 vezes mais risco de desenvolver câncer testicular. Herança genética é outro fator de risco. Esse câncer também pode acometer mulheres trans, travestis e pessoas de gêneros não binários.
Em geral, os homens tendem a associar alterações nos testículos (assim como no pênis) às infecções sexualmente transmissíveis ou traumas na região e demoram para ir ao médico. No entanto, é fundamental, ao perceber alguns sinais e irregularidades nos testículos, procurar ajuda especializada de um urologista para investigar as causas das dores e das anomalias.
Os principais sintomas de câncer de testículo são nódulo pequeno, duro e indolor; mudança na consistência dos testículos, sensação de peso na bolsa escrotal, dor incômoda no baixo ventre ou na virilha, desconforto no testículo ou na bolsa escrotal, crescimento da mama ou perda do desejo sexual, crescimento de pelos na face e no corpo em meninos muito jovens, dor lombar.
Gustavo Cardoso Guimarães é médico cirurgião oncológico e urologista, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.