30 anos da Chacina da Candelária: relembre massacre que deixou oito mortos

Uma vigília em frente à Igreja da Candelária, na sexta-feira (21), marcou o início de uma série de homenagens à tragédia.

Ana Clara Prevedello

Homenagens marcam os 30 anos da chacina da Candelária
Fernando Frazão/Agência Brasil

A Chacina da Candelária completa 30 anos hoje (23). Uma vigília em frente à Igreja da Candelária, na sexta-feira (21), marcou o início de uma série de homenagens ao massacre, no qual seis crianças e dois jovens em situação de rua foram mortos por policiais.

Márcia Gatto, coordenadora do ‘Candelária Nunca Mais!’, movimento responsável pelas homenagens, destacou a importância de iniciativas como essa.

“Sempre, no dia 23 de julho, marcamos essa data com manifestações de repúdio e em defesa da vida, contra essa violência”, disse.

Além da vigília que aconteceu na sexta-feira, o movimento promove um ato de manifestação virtual hoje (23). Amanhã (24), os manifestantes vão lavar a escadaria da Igreja da Candelária às 9h e, às 10h, uma missa será celebrada.

Para encerrar as manifestações, um Ato Político Cultural e uma Ciranda acontecem na Cinelândia, também no Centro do Rio, a partir das 13h.

Programação do movimento ‘Candelária Nunca Mais’. Crédito: Divulgação.

RELEMBRE A TRAGÉDIA

No dia 23 de julho de 1993, um grupo de atiradores desembarcou de dois carros, com placas encobertas, no Centro do Rio de Janeiro, na Igreja da Candelária, onde cerca de 70 crianças e adolescentes em situação de rua dormiam. Dois jovens e seis menores de idade morreram.

Yvonne Bezerra, educadora que fazia um trabalho social para alfabetizar as pessoas em situação de rua na época, afirma que seu telefone tocou logo depois de os tiros começarem. Ela entregava, todos os dias, três moedas para que os meninos ligassem para ela, por algum orelhão, caso percebessem alguma violência nas proximidades.

“Utilizaram todas as três (moedas). Uma seguida da outra, quando começou o tiroteio. Eles ligaram dizendo ‘tia, tia, tão nos matando, você tem que vir rápido’, e desligou. E aí veio outro: ‘a polícia chegou aqui, mataram a gente’”, relembra.

O menino Rodrigo Fernandes, sobrevivente do massacre, tinha apenas 14 anos. Ele dormia em cima de uma banca de jornal, e lembra que, assim que ouviu os disparos, fugiu.

“Eu comecei a escutar os estouros e só deu tempo de correr, senão, hoje, eu seria mais um desenho naquele solo ali. Conseguiram acertar um tiro de raspão no meu braço esquerdo”, conta.

Quatro PMs foram condenados a mais de 200 anos de prisão em regime fechado. Mas, atualmente, nenhum deles está preso.

“É um buraco no judiciário brasileiro. Eles foram condenados, como todos são condenados por crimes hediondos, em 400, 300 anos. Mas isso, para mim, é uma brincadeira, porque no Brasil ninguém fica preso, não ficam nem 30 anos”, lamenta Yvonne.

Yvonne Bezerra, educadora. Divulgação: TV Band Rio.

*Sob supervisão de Christiano Pinho.

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