Uma jovem de 19 anos foi vítima de importunação sexual durante uma pré-entrevista de emprego em 2019. Tatiane Nascimento de Sousa estava conversando com o sócio de uma loja do Shopping Metropolitano, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, quando o homem perguntou se ela poderia mandar nude para garantir a vaga.
Inicialmente, a vítima processou criminalmente o homem que a assediou, Guilherme de Aguiar Gouvêa, e ele foi condenado à sentença máxima, de dois anos de prisão, mas aceitou trocar a pena por distribuição de cesta básica.
"Era um processo criminal e quando eu vi eu já adverti ela porque no crime a pena máxima são dois anos, então o Ministério Público propõe uma troca, seja uma cesta básica ou um serviço comunitário. Ele (Guilherme) aceitou e o caso foi arquivado. Aí eu ponderei com ela que, se ela quisesse algum tipo de reparação, ela deveria entrar na justiça comum e eu, como advogado, me prontifiquei a ajudá-la", explicou o advogado da vítima, Marcus Malcher. E, apenas quatro anos depois, saiu a decisão da indenização.
Depois, Tatiane abriu um processo civil contra o shopping, a loja e o homem responsável pelo crime e a justiça determinou em primeira instância uma indenização de R$ 50 mil. Ainda cabe recurso.
"Eu tinha muita vontade de trabalhar no shopping, então foi tudo um choque. Depois disso, eu fiquei com muito medo de buscar novas vagas de emprego", contou a jovem, que tinha apenas 19 anos quando aconteceu o caso. Durante o relato, Tatiane se emocionou e começou a chorar.
"Até agora eu tento esquecer tudo que eu passei, porque se eu ficar lembrando, eu vou chorar", concluiu ela.
Em nota, o shopping afirmou que repudia qualquer tipo de assédio ou violência e que apenas divulga as oportunidades de emprego no site, mas não tem controle sobre as mensagens trocadas entre os dois envolvidos. A defesa de Guilherme afirma que os horários da mesma mensagem divergem entre os dois celulares e que há falsificação nas provas.
ENTENDA O CASO
Tatiane se cadastrou na aba "Trabalhe Conosco", do Shopping Metropolitano, e enviou mensagem para os contatos que apareceram, entre eles, o de Guilherme.
"Ele me respondeu marcando a entrevista e no mesmo dia ele fez o pedido. Eu fiquei derrotada, não estava esperando, eu fiquei muito surpresa. De primeira eu pensei logo em mandar mensagem de novo para ele confirmar e eu poder tirar o print. Foi tudo muito rápido. Depois, ele só me respondeu 'Deixa para a próxima', como se nada tivesse acontecido", explicou ela.
Em seguida, Guilherme apagou a mensagem em que pediu um nude à jovem. Depois, ele afirmou que só consegue a vaga quem manda as imagens ou faz o "teste do sofá". Confira o print da conversa a seguir.
OUTROS CASOS DE ASSÉDIO
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas em 2022, 30 milhões de mulheres sofreram algum tipo de assédio, o que equivale a uma mulher assediada por segundo.
"Se ele fez isso comigo, ele já deve ter feito com outras meninas. E é uma loja que só contrata mulher. E se alguém aceitou? Ele vai pagar a cesta básica e depois ficar livre para poder fazer com outras meninas... É como ficar impune", desabafou Tatiane.
O advogado Marcus Malcher reafirma a importância de coletar provas em casos de assédio. "Tirar print das mensagens, ter um back up e imprimir. E depois ir à delegacia. Depois, entrar na justiça comum com base nessas provas", disse.
*Sob supervisão de Helena Vieira