Os policiais militares envolvidos na morte de Cauã da Silva Santos, de 17 anos, foram afastados das ruas depois da decisão tomada nesta terça-feira (5) pela Secretaria de Polícia Militar. Os sete agentes participaram de uma ação em Cordovil, na Zona Norte do Rio, que resultou na morte do jovem. Um procedimento interno foi aberto para investigar o caso.
Os policiais do estado do Rio ainda não utilizam as Câmeras Operacionais Portáteis (COPs) na farda. Um item que poderia ajudar a elucidar o assassinato de Cauã.
Mais de 21 mil câmeras foram compradas pelo Governo do Rio, mas as COPs chegaram a ser usadas apenas em fase de testes, no último reveillón, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Depois disso, não estiveram mais nas fardas dos agentes. No dia 3 de fevereiro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 9 votos a 2, dar um prazo de 180 dias para que as forças policiais do Rio instalassem câmeras (as COPs) e equipamentos de GPS nas viaturas e nas fardas dos policiais.
Mais de 60 dias depois da decisão do STF, as câmeras ainda não foram instaladas. Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar (SEPM), disse que “de acordo com cronograma de instalação das Câmeras Operacionais Portáteis (COPs), o equipamento será distribuído para uso de efetivo lotado em unidades subordinadas ao 1º Comando de Policiamento de Área - 1ºCPA (Capital) e 7ºCPA (Região Serrana), com previsão de início da operação na segunda quinzena de maio, após período de treinamento de operação de câmeras e utilização de software e gerenciamento de imagens para os respectivos usuários”.
Em relação à utilização das COPs no último reveillón, a Secretaria informou que “a experiência foi direcionada a um evento com grande mobilização de pessoas, visando o aperfeiçoamento da utilização dos equipamentos para que progressivamente ganhe escala em todo o território estadual”.
JOVEM MORTO EM OPERAÇÃO
Cauã da Silva Santos participava, na noite de ontem (4), de um evento de luta livre com outros jovens na comunidade do Dourado, em Cordovil, na Zona Norte do Rio, quando foi baleado e morto durante um confronto entre policiais e criminosos na região.
A família da vítima acusa os policiais militares de terem atirado no jovem e jogado o corpo num valão. De acordo com testemunhas, o adolescente estava levando cinco crianças para casa, na Rua Antônio João, por volta das 22h30, quando foi atingido por disparos dos policiais. Ainda segundo os relatos, não havia criminosos no local e os policiais recolheram as cápsulas das balas do chão.
A SEPM disse que os agentes realizam um policiamento no local quando “criminosos armados atacaram a tiros a guarnição. Houve confronto e um suspeito foi atingido. Com o homem, que era evadido do sistema prisional, foram apreendidos um rádio comunicador, 60 papelotes de maconha, 15 papelotes de cocaína e R$ 39,00 em espécie”.
Sobre ter jogado o jovem no valão, a Secretaria informou que “em continuidade a ação, os policiais seguiram até um valão próximo, onde os demais criminosos pularam durante a fuga. No córrego, foram apreendidos uma pistola calibre 9mm e três carregadores com 31 munições. Posteriormente, as equipes foram informadas de que um homem atingido por disparo de arma de fogo deu entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, onde não resistiu aos ferimentos”.
“A família está dilacerada, sofrendo muito. Você coloca todos os casos em cima desse jovem. Não é o primeiro caso que acontece. É um sofrimento muito grande. É mais um jovem negro executado por uma ação imprudente do poder público, que a gente coloca como racismo institucional. Os moradores de favela também têm direitos. Se fosse na Zona Sul, eles não entrariam da mesma forma”, disse Cláudia Vitalino, integrante da Frente Favela Brasil e presidenta da UNEGRO, união de negros e negras do estado do Rio de Janeiro.