A morte da vereadora Marielle Franco foi idealizada pelos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, e planejada pelo ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, segundo relatório da Polícia Federal.
“Assim, se verifica claramente que o crime foi idealizado pelos dois irmãos e meticulosamente planejado por Rivaldo. E aqui se justifica a qualificação de Rivaldo como autor do delito, uma vez que, apesar de não ter o idealizado, ele foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências".
A informação consta em documento divulgado neste domingo (24) após o ministro Alexandre de Moraes retirar o sigilo da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa.
Para a PF, o assassinato de Marielle está relacionado ao posicionamento contrário da parlamentar aos interesses do grupo político liderado pelos irmãos Brazão, que tem ligação com questões fundiárias em áreas controladas por milícias no Rio.
“Os indícios de autoria mediata que recaem sobre os irmãos Domingos Inácio Brazão e José Francisco Brazão são eloquentes. Com base na dinâmica narrada pelo executor Ronnie Lessa e pelos elementos de convicção angariados durante a fase de corroboração de suas declarações, extrai-se que os irmãos contrataram dois serviços para a consecução do homicídio da então vereadora Marielle Franco”, disse a PF no relatório.
O documento ainda afirma que Rivaldo Barbosa instalou uma balcão de negócios na diretoria de divisão de homicídios.
“Se mostra indubitável a conclusão de que Rivaldo Barbosa instalou na diretoria de divisão de homicídios um verdadeiro balcão de negócios destinado a negociatas que envolviam a omissão deliberada ou o direcionamento de investigações para pessoas que se sabiam inocentes. Para tanto, Rivaldo fez negócio com contraventores, milicianos e, como se vê no caso em tela, políticos, no afã de se locupletar financeira e politicamente”.
Entenda
A Polícia Federal prendeu, na manhã deste domingo (24), os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Também foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal.
As prisões ocorrem após Ronnie Lessa, que efetuou os 13 disparos contra as vítimas, ter o acordo de delação premiada validado pelo STF há menos de uma semana. O caso foi encaminhado para a Suprema Corte depois que o nome do deputado federal Chiquinho Brazão, que tem foro privilegiado, apareceu na delação.
Chiquinho e o irmão, Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do estado do Rio, foram apontados por Ronnie Lessa como envolvidos no plano pra matar a vereadora. Na delação, o ex-PM afirmou que os mandantes integram um grupo político poderoso no Rio com vários interesses em diversos setores do Estado.
A ação, que contou com a participação da Procuradoria-Geral da República e do Ministério Público, foi feita na manhã deste domingo para surpreender os suspeitos. O setor de inteligência da polícia indicava que os mandantes do crime já estavam em alerta nos últimos dias, após o STF homologar a delação de Ronnie Lessa.
Agora, os investigadores trabalham pra descobrir a motivação do crime. A motivação do crime tem a ver com a disputa territoral e a expansão da milicia no Rio de Janeiro, de acordo com o que foi dito e confirmado pelas delações durante as investigações. Todos os presos devem seguir para uma penitenciária em Brasília.