Sujeira, ar-condicionado desligado, janelas quebradas, portas com defeito, falta de pontualidade. As más condições dos ônibus no município do Rio de Janeiro são praticamente uma unanimidade para quem usa o transporte público diariamente. Ao todo, os veículos foram alvos de 5.304 reclamações, de janeiro a novembro deste ano, por consumidores que denunciaram através da central 1746.

“A condição dos ônibus está muito ruim no Rio. Até antes da pandemia já não era tão boa, mas depois piorou. Por um lado, as passagens não aumentaram tanto, mas a precariedade do transporte aumentou muito. Você tem problemas de infraestrutura, as máquinas estão antigas. E também segurança, de certa forma, a gente viaja mais tensa”, disse a química Andreia Machado, que pega o transporte para ir trabalhar.

Das mais de 5 mil reclamações, 569 foram sobre as más condições dos ônibus e 4.735 foram sobre pontualidade e demora (escassez ou intervalo irregular).

“O poder público tem que agir tecnicamente. Ação, punição e despolitização. Isso que falta ao poder público. Precisamos que os ônibus, efetivamente, prestem os seus serviços. O ônibus é muito importante para a capilaridade, mas muita das vezes eles fazem papel de trens e metrôs, mesmo sendo um transporte de baixa capacidade”, comentou Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes.

Nesta sexta-feira, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) iniciou uma operação de vistoria de ônibus em todas as garagens para verificação do estado de conservação geral da frota. A ação começou pelos veículos das empresas Transurb, vinculada à linha Troncal 7, do Consócio Intersul, e Auto Viação Três Amigos, responsável pela linha 783, do Consórcio Transcarioca.

Em caso de irregularidades, os consórcios responsáveis serão autuados e os veículos, dependendo do estado de conservação, podem ser lacrados até que recebam os reparos necessários.

Em novembro de 2021, um decreto foi publicado que autorizava que transportes coletivos ligassem o ar condicionado, mas, até hoje, muitos transportes não estão ligando e os passageiros estão sofrendo com o calor.

Por conta disso, um serviço exclusivo para reclamações sobre ônibus com ar-condicionado desligados foi lançado também nesta sexta (4), pela SMTR. As denúncias poderão ser feitas por meio dos canais de atendimento da Central 1746: telefone, WhatsApp, aplicativo ou site.

Basta informar a data, hora e a linha que esteja circulando sem a refrigeração. Com as informações, os fiscais vão para as ruas vistoriar as linhas mais reclamadas e multar os consórcios se for constatada a irregularidade. A população poderá acompanhar o resultado dos chamados consultando o número do registro.

DOIS PASSAGEIROS MORREM EM MENOS DE 48 HORAS DEPOIS DE CAÍREM DE ÔNIBUS EM MOVIMENTO

A Polícia Civil investiga o caso de uma idosa que morreu, após ser arremessada para fora do ônibus, que estava em movimento, da linha 783, que faz o trajeto Marechal Hermes x Praça Seca, em Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio, na quinta-feira (05). Maria da Glória tinha 69 anos.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, o motorista e testemunhas foram ouvidos e a investigação está em andamento, no caso da idosa.

Esse é o segundo caso em menos de dois dias. Na última terça-feira (1), Charles da Conceição caiu de um ônibus cheio e em movimento, na Cidade Nova, Centro do Rio. O homem estava próximo à porta do coletivo e acabou caindo depois que o motorista fez uma curva acentuada.

A vítima estava na linha Troncal 7, que vai da Central até o Cosme Velho. Em depoimento, o motorista afirmou que a porta estava com defeito e que o ônibus estava muito cheio.

Charles caiu do coletivo que subia o viaduto Santa Bárbara, no sentido Laranjeiras, na Zona Sul do Rio.

"Na curva, a porta do cadeirante abriu e o passageiro caiu", relatou o motorista do ônibus.

O caso é investigado pela 6ª DP. A delegacia pediu imagens das câmeras internas do coletivo para saber o que, de fato, ocorreu. A Rio Ônibus disse, em nota, disse que o ônibus possuía apenas dois meses de uso. O corpo da vítima foi enterrado nesta quinta-feira (03).

Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes disse que vai aplicar multa contratual no valor de R$ 16 milhões aos consórcios Intersul e Transcarioca, envolvidos nos acidentes desta semana. A pasta também vai suspender, a partir da data dos acidentes, o pagamento do subsídio aos veículos envolvidos na linha Troncal 7 e da linha 783, até que sejam vistoriados e liberados.

*Sob supervisão de Natashi Franco