Mãe luta por um mediador para ajudar o filho com autismo na escola

Colégio na Ilha do Governador não ofereceu alternativas para a adaptação escolar do menino. No Rio, muitas pessoas enfrentam a mesma situação

Ádison Ramos e Ana Clara Prevedello*

Mãe luta por um mediador para ajudar o filho com autismo na escola
A lei assegura que estudantes autistas sejam acompanhados por profissionais qualificados.
Divulgação TV Band

Luciana Nascimento da Luz luta há mais de um ano por um mediador que ajude seu filho no ambiente escolar. João, de 10 anos, tem o transtorno do espectro autista, e precisa de auxílio em sala de aula. Mas a realidade é bem diferente.

O menino estudava na Escola Municipal Gurgel do Amaral, na Ilha do Governador, e, segundo Luciana, a única opção oferecida pelo colégio era uma sala especial, onde menino ficava separado dos colegas.

Ele só podia permanecer no local por uma hora, sem o acompanhamento de um mediador, apenas de uma professora. A mãe afirma que João começou a ficar socialmente distante por conta do isolamento.

“Ele não conseguia ser incluído, só ficava nessa sala. Passou a não querer ficar perto das outras crianças. O barulho começou a incomodá-lo... ficava sozinho o tempo todo com a professora. O João começou a não querer sair de casa por saber que teria que ficar em lugares de convívio social”, conta.

Ao entrar em contato com a Coordenadoria Regional de Educação (CRE), ela foi informada de que não havia mediadores disponíveis, mas que o menino poderia mudar para outra escola e ir para uma turma mais avançada.

“A CRE me procurou para matricular o João em outra escola, com a promessa de um auxiliar, não de um mediador. Um estagiário. Não ia adiantar muita coisa. E com um tempo resumido, como sempre. No máximo duas horas”, ela lamenta.

O processo seletivo mais recente para a contratação de mediadores feito pela Prefeitura do Rio foi em dezembro do ano passado. O edital determinava que o candidato deveria ter mais de 18 anos e ensino médio completo.

O problema é que a lei federal que garante os direitos das pessoas com transtornos do espectro autista, assegura que o estudante seja acompanhado por um profissional qualificado.

Ercília Oliveira, mediadora de classe inclusiva, se candidatou para o último processo, mas não foi chamada. Ela cuida do sobrinho de 16 anos, que tem microcefalia.

“Os mediadores facilitam muito a vida das crianças nas escolas. Eles apoiam, ajudam e fazem com que os pais se sintam seguros, sabendo que os filhos estão tendo uma educação por excelência e que seus filhos são importantes, tanto para eles quanto para as escolas e para as políticas públicas. É um dever do Estado”, ela reforça.

A psicóloga clínica Francilene Torraca chama atenção para o problema, e fala sobre a dificuldade de regulamentação dos mediadores nos ambientes escolares.

“É fundamental que eles tenham formações voltadas para um olhar pedagógico e de inclusão. Como um mediador pode estar dentro de programas de mediação escolar, tendo uma atuação de facilitador da aprendizagem, sem minimamente conhecer as práticas pedagógicas? Eles são eficientes ferramentas de transformação pedagógica, por beneficiarem essa dinâmica escolar e a relação entre alunos. Por isso, é fundamental que eles tenham aptidões para desenvolver e manter as relações de trabalho de forma eficaz com as crianças, com a família e com os profissionais da escola”, explica.

Para Luciana, muitas pessoas que cuidam de crianças com autismo não demonstram esperança de que o caso seja resolvido.

“Para uma mãe de autista, isso é muito constrangedor. Você sente o seu filho excluído. Ele deveria ter toda a atenção, todo o carinho, todo o amor, e ele não tem. Não é só o João, são muitas mães que estão passando por isso. Não é só aqui na Ilha do Governador, e sim em todos os lugares, em todos os estados, eu sempre escuto uma mãe dizer a mesma coisa pra mim. Um pai chegou a me falar que nem adianta procurar ajuda”, lamenta.

Procurada, a Prefeitura do Rio não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.

*Sob supervisão de Christiano Pinho