Em colaboração premiada, Élcio de Queiroz, preso pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes, confessou a participação no crime.
O ex-policial militar também delatou duas pessoas, que já eram denunciadas por envolvimento no caso: Ronnie Lessa, policial que efetuou os disparos que mataram as vítimas, e o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa. Suel, como é conhecido, foi preso nesta segunda-feira (24) durante a Operação Élpis, da Polícia Federal e do MPRJ.
Durante a delação, Élcio confirmou o que a polícia e a promotoria já sabiam: era ele o motorista do carro usado para matar a vereadora, no dia 14/03/2018. O ex-PM afirmou que logo após os assassinatos de Marielle e Anderson foi a um bar na Barra da Tijuca com Ronnie Lessa. A dupla teria encontrado Suel, que estaria acompanhado da esposa.
Suel teria, então, dito para Élcio que "estava um tempão nessa situação e deu problema no carro", se referindo ao veículo que seria utilizado no crime, o que seria o primeiro indício de sua participação no crime.
Élcio contou à polícia que passou mal durante o encontro e que ficou embriagado. "Estava louco; vomitei umas três vezes; querendo sumir do mundo".
Segundo o ex-PM, Suel e Ronnie planejavam a morte da vereadora desde 2017. Na virada de 2017 para 2018, Ronnie, amigo próximo de Élcio na época, teria afirmado que estava envolvido em um 'trabalho' com Suel e outro homem, Edmilson Macalé, sargento da Polícia Militar morto em 2021.
Ronnie teria contado para Élcio que os três vigiavam um alvo, e que "teve a oportunidade de chegar até esse alvo um dia, na área do Estácio, e na hora que foi pra acontecer o fato, o crime, no caso seria uma execução (...), houve um refugo, o carro deu um problema". De acordo com o ex-PM era Suel quem dirigia o veículo, na tentativa fracassada de assassinar a vereadora.
Élcio afirmou aos policiais que Edmilson Macalé foi o responsável pela ligação entre Ronnie Lessa e o mandante da morte de Marielle.
"Edmilson que trouxe, vamos dizer, esse trabalho para eles. Essa missão para eles foi através do Macalé, que chegou até o Ronnie", afirmou.
O ex-PM também confessou que o carro usado no dia do assassinato foi levado até a Zona Norte do Rio para ser desmanchado por Edmilson Barbosa dos Santos, conhecido como "Orelha". Ele foi alvo da operação nesta segunda-feira (24).
Já a arma utilizada no crime nunca foi encontrada pelos investigadores. Élcio revela que o armamento foi desviado do batalhão de operações especiais da PM depois de um incêndio, e que a submetralhadora teria sido jogada em alto-mar por Ronnie.
"Eu não acredito, mas ele falou que serrou ela todinha, pegou a embarcação na Barra da Tijuca, foi numa parte mais funda... E jogou ali".
O QUE DIZ O MINISTÉRIO PÚBLICO
De acordo com o promotor de Justiça Eduardo Martins, "Maxwell participou da manutenção e guarda do carro, da vigilância da vereadora e, após o crime, auxiliou os executores a trocar as placas do veículo, a contactar a pessoa responsável a se desfazer do carro".
Em documento oficial, o Ministério Público ainda afirmou que, após a prisão de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, Suel auxiliou Élcio financeiramente, "fornecendo à sua família valores em dinheiro que se destinavam tanto ao pagamento dos honorários advocatícios do profissional responsável por sua defesa (...), quanto à manutenção dos parentes de Élcio".
O QUE DIZ A JUSTIÇA DO RIO
O juiz Gustavo Gomes Kalil destacou na decisão de prender Maxwell que "a sofisticação nos atos preparatórios, na execução e no pós-crime revelam a gravidade da conduta, inclusive vitimando uma parlamentar no exercício no mandato". O magistrado lembrou ainda que há indícios de que Suel "integraria organização criminosa para exploração de sinal clandestino de TV e internet".
Maxwell já havia sido condenado em 2021 a quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações. O ex-bombeiro tinha sido preso em junho de 2020 e cumpria a pena no semi-aberto.
O QUE DIZEM OS FAMILIARES
Os familiares de Marielle Franco e de Anderson Gomes se reuniram hoje (24), na sede do MPRJ, com os promotores do Ministério Público do Rio e delegados da Polícia Federal. Após o encontro, eles destacaram a importância da operação que aconteceu nesta segunda-feira.
"Com muita esperança, foi dado um passo a mais. A gente tá avançando cada vez mais, vamos continuar lutando, agradecendo à toda equipe que tem se empenhado o máximo para a gente chegar a condenar e saber quem são os mandantes do crime da Marielle e Anderson", afirmou a mãe da vereadora, Marinete Franco.
Mônica Benício, viúva de Marielle, ressaltou que a delação premiada feita por Élcio de Queiroz serviu para esclarecer detalhes do crime.
"Frustra, mas eu tenho aí (...) a fé e o ânimo de que o Ronnie Lessa possa se inspirar nessa delação do Élcio, entendendo que essas configurações tenham ficado cada vez mais elucidadas, e que possa, enfim, chegar ao nome dos mandantes", afirmou.
*Sob supervisão de Christiano Pinho.