De acordo com a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), Allan Turnowski, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, atuava como agente duplo na disputa entre organizações criminosas do Rio, praticando atos para beneficiar o grupo antes comandado por Fernando Iggnácio, morto em novembro de 2020, e prejudicar a quadrilha chefiada por Rogério de Andrade.
Segundo o MP, Allan atuava de forma “velada e dissimulada”. Ele conseguia as informações com os parceiros de Rogério de Andrade, como Ronie Lessa, e as repassava para Fernando Iggnácio, por meio de Maurício Demétrio, delegado preso em junho de 2021.
A organização criminosa da qual pertence Allan, de acordo com o MP, é considerada um ‘braço ativo’ do grupo de Fernando Iggnácio, que tinha estrutura voltada à exploração ilícita de jogos de azar e à prática de crimes. Além do ex-secretário de Polícia Civil, há outros delegados, ainda não identificados, que usariam da estrutura e recursos da mesma forma para cometer os crimes.
Além disso, o grupo criminoso também mantinha contato com outras organizações criminosas, como a milícia de Rio das Pedras, que era comandada por Adriano Magalhães de Nóbrega, morto em fevereiro de 2020, numa operação policial na Bahia. Adriano era considerado um dos milicianos mais procurados do Rio de Janeiro, suspeito de comandar o Escritório do Crime.
Maurício Demétrio também praticava atos ilícitos para beneficiar o grupo do Fernando Iggnácio e prejudicar o de Rogério de Andrade.
Segundo o MP, essa relação de agente duplo é comum entre os bicheiros.
“As linhas se cruzam muito mais do que a gente consegue ver, entendeu? Um cara que você acha que está de um lado pode estar do outro, sacou?”, comentou Maurício Demétrio em um áudio interceptado do celular dele pelo MP.
No documento de quase 3 mil páginas, os 10 promotores que assinam a denúncia, destacam que Allan era “inseparável” de Maurício e mantinham uma rotina de contatos e aconselhamento mútuo, na qual tratavam sobre recebimento de propina, estratégias para galgarem cargos estratégicos na corporação e necessidade de se protegerem da atuação de investigadores.
Ainda de acordo com o órgão, o elo era tão intenso entre os dois que, quando tratavam de substituição de nomes na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, que poderia acarretar o surgimento de investigações contra os próprios interesses,
Allan chegou a afirmar que ele e Maurício eram “uma mesma empresa, assim, para um se salvar, o outro também teria que ser salvo”.
Em outros áudios interceptados, Maurício Demétrio, inimigo do grupo de Rogério de Andrade, chega a falar para “resolver esse Rogério logo”. Ele ainda relata que iria tentar convencer Turnowsky a executar o plano. Segundo Maurício, o mesmo estava com um mal pressentimento de que Rogério de Andrade iria atacar Fernando Iggnácio.
Maurício Demétrio: “Cara, depois a gente senta com calma aí e VAMOS VER ESSE NEGÓCIO DE RESOLVER ESSE ROGÉRIO, LOGO. Tô muito preocupado, sabia? até pelo que o ALLAN me falou... não que o cara tenha falado nada não... O ALLAN falou: `pô, meu irmão, dá um toque no teu tio!` porque ele chama o URUBU de TIO, né? ‘dá um toque no teu TIO, porque o cara vai... tô com um mal pressentimento, acho que o cara vai partir pra cima dele aí…"
*Sob supervisão de Natashi Franco