Élcio Queiroz deve ser transferido para presídio estadual após delação premiada

Após delação premiada, ex-PM ganha benefícios. Já o ex-bombeiro Suel foi levado hoje (25) para penitenciária de segurança máxima.

*Ana Clara Prevedello e Fernando David

Élcio de Queiroz, réu confesso do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, revelou detalhes sobre o crime durante a delação premiada que firmou com a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro.

Com o acordo, o ex-policial militar deve cumprir parte da pena em um presídio estadual de Brasília, além de garantir proteção para a família. Inicialmente fontes na investigação indicaram que o acordo faria com que Élcio não fosse levado a júri popular, mas o Ministério Público garante que ele vai ser julgado pelo Tribunal do Júri.

O ex-PM é o primeiro acusado a confessar participação no crime. A delação teria sido motivada por quebra de confiança entre ele e Ronnie Lessa, além de avanços na investigação.

Em trecho divulgado da delação premiada, Élcio confirmou que no dia do crime ele e Lessa saíram da Barra da Tijuca às 16h, e que dirigiram 27 km até a Casa das Pretas, onde esperaram pela saída de Marielle Franco. Ela estava acompanhada do motorista Anderson Gomes e de uma amiga, Fernanda Chaves, única sobrevivente do assassinato.

Lessa teria pedido para Élcio emparelhar o veículo com o carro de Marielle, disparando contra os alvos logo depois.

“Ele tira a metralhadora, no caso, a arma do crime, coloca o silenciador... e, nesse momento, fala: ‘é agora’”. (...) Eu já estava com o vidro aberto, e só escutei a rajada, as cápsulas na minha cabeça, no pescoço”.

Após a execução, a dupla pegou a Av. Brasil e, em seguida, percorreu a Linha Amarela até a saída para o Méier, na Zona Norte do Rio, onde deixou o carro, um Cobalt Prata. Segundo o delator, o veículo foi desmanchado dois dias depois por um contato de Lessa, o mecânico Edilson Barbosa, conhecido como “Orelha”.

“O Ronnie deixou bem claro pra explicar pra ele que isso aí tem que sumir... Não pode aparecer, não pode vender peça... Não pode fazer desmanche pra vender peças. A preocupação era essa, porque tem digital, podia achar uma cápsula, um DNA, alguma coisa. Se possível até tacar fogo e principalmente tirar a numeração”.

A arma do crime, uma submetralhadora MP5, não foi encontrada. O modelo faz parte do arsenal do BOPE e da Polícia Civil e, segundo Élcio, teria sido desviado depois de um incêndio no Batalhão de Operações Especiais e jogado no mar por Ronnie Lessa depois do crime.

“Eu não acredito, mas ele falou que serrou ela todinha, pegou a embarcação lá na Barra da Tijuca, foi numa parte mais funda que tem lá, porque a maioria é quinze metros, foi numa parte que tinha trinta metros e jogou ali”.

Élcio e Ronnie foram presos um ano depois dos assassinatos. Ontem (24), a Polícia Federal prendeu o bombeiro Maxwell Simões, que ficará detido no Presídio Federal de Segurança Máxima em Brasília, para onde foi transferido nesta terça (25).

Suel, como é conhecido, teria vigiado a rotina de Marielle e ajudado a recolher os estojos de munição de dentro do carro depois do crime. Ele chegou a participar de uma tentativa frustrada de matar a vereadora três meses antes do assassinato.

O conteúdo divulgado até agora é apenas uma parte da delação. A esperança da família é que o restante do depoimento finalmente leve as autoridades a responder quem mandou matar Marielle.

"Frustra, mas eu tenho aí (...) a fé e o ânimo de que o Ronnie Lessa possa se inspirar nessa delação do Élcio, entendendo que essas configurações tenham ficado cada vez mais elucidadas, e que possa, enfim, chegar ao nome dos mandantes", afirmou Mônica Benício, viúva de Marielle Franco.

Confira trechos da delação em vídeo clicando na reportagem no player acima

*Sob supervisão de Christiano Pinho.