Se os atrasos frequentes já viraram rotina para passageiros da Supervia, os problemas de gestão da empresa e do Estado, para fiscalizar o contrato, estão trazendo luz ao motivo da entrega de um péssimo serviço de transporte. Na sessão de hoje da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que investiga denúncias de superlotação dos vagões e o alto valor da tarifa dos trens, o presidente da Central Logística, Flávio Vieira da Silva, afirmou que não sabe quais são os bens da empresa.
A Central é uma companhia estadual responsável pela zeladoria e conservação do patrimônio permanente da malha ferroviária. Questionado sobre o tema, Flávio prometeu enviar um relatório para os deputados em até 15 dias.
“A Central também é responsável pelo péssimo funcionamento da SuperVia. A partir do momento que o cidadão não consegue pegar o trem aonde ele mora para poder ir para o trabalho, se os trilhos têm problemas, se tem problema de sinalização, isso também é responsabilidade da Central Logística”, disse Lúcia Helena de Maral, Lucinha, deputada estadual e presidente da CPI.
Flávio Vieira da Silva assumiu o cargo há 45 dias e foi sabatinado pelos integrantes da CPI. A malha ferroviária do estado conta com 207 Km de extensão. Apesar de haver uma empresa estadual responsável pelo patrimônio, o presidente da Central de Logística afirmou que não tem função de órgão fiscalizador, mas que é de responsabilidade da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transporte (AGETRANSP) a obrigação de vistoriar o serviço da concessionária. Mesmo assim, técnico usados nessas fiscalização são servidores públicos da Central que são cedidos para a Agentransp.
“A Central apenas zela pelo patrimônio, mas cede técnicos à agência para estas vistorias”, comentou o presidente da Central.
Flávio admitiu que há déficit de engenheiros nesse caso. E que 150 profissionais se aposentaram ao longo de 2021, impactando ainda mais no serviço.
"A Central Logística possui apenas 143 servidores, número insuficiente para zelar pelo sistema ferroviário no Estado do Rio, já que aposentou 150 funcionários em 2021. O mínimo que se espera de um Estado que decidiu não mais operar o sistema, em 1998, era que atuasse firmemente na fiscalização e regulação, mas isso não ocorre", disse o relator da CPI, o deputado Waldeck Carneiro, ressaltando que o modal possui um serviço custeado exclusivamente pelas tarifas, por isso há necessidade de se propor receitas extratarifárias.
Mesmo sem saber quantas composições estão operando no atendimento aos passageiros, o presidente da Central Logística, afirmou que há 49 trens obsoletos que podem entrar em atividade se for necessário para compor a frota e reduzir os atrasos.
UMA ROTINA DESESPERADORA
Pelo sexto dia útil seguido, os passageiros dos trens da SuperVia reclamaram de problemas na circulação. Hoje (16), os ramais de Santa Cruz, Deodoro, Gramacho e Japeri tiveram atraso nos trens.
“Depender do transporte público no Rio de Janeiro é complicado. O trajeto que deveria ser de 70 minutos, o usuário não consegue fazer em menos de 1 hora e meia, 1 hora e 40. A gente na estação e não tem trem, não tem informação em tempo real, é baldeação, furto de cabo, todo dia tem uma história, tem uma ocorrência. Agora vou chegar no trabalho atrasado, ouvir história do patrão. Todo dia é isso, não melhora”, falou Manoel dos Santos.
Na semana passada, o governador do Rio, Cláudio Castro, afirmou que a justificativa de furto de cabos usada pela concessionária é uma "falácia". Mas ele não comentou sobre a possível intervenção do estado no modal.
“É uma coisa muito clara, você tem lá um serviço que custa e também tem a demanda. Uma coisa tem que equilibrar a outra. Existe, em todo contrato, a questão do equilíbrio financeiro, eu acho que isso não está acontecendo nesse momento. O socorro teria que ser através de subsídio, acredito. Não acho que a intervenção do estado seja a melhor alternativa ”, comentou José Eugênio Leal, Engenheiro especialista em transportes.
Mesmo com tantos órgãos públicos e pessoas envolvidas, no final, o prejudicado é apenas um: o passageiro.
“A rotina dos usuários da SuperVia é a pior possível. Todos os dias temos atrasos e superlotação. E ainda temos que lidar com a questão insegurança pública. Há duas, três semanas atrás, fomos surpreendidos por uma troca de tiros entre assaltantes e policiais dentro de uma estação. Sem contar com a acessibilidade, as escadas rolantes só funcionam nas principais estações e os elevadores sempre estão desligados. Já cansei de carregar cadeirante tanto na chegada, quanto na saída do trabalho”, afirmou Robert Michel.
*Estagiário sob supervisão de Natashi Franco