IDOSA SEQUESTRADA: Clínica defende que vítima não foi internada à força

Maria Aparecida Paiva também prestou depoimento hoje e falou sobre o sequestro

Ana Clara Prevedello*

IDOSA SEQUESTRADA: Clínica defende que vítima não foi internada à força
Câmeras mostram idosa entrando sem resistência na clínica
Reprodução

A Clínica Revitalis, uma das unidades em que Maria Aparecida Paiva foi internada à força, publicou uma nota à imprensa nesta terça-feira (28). Segundo os advogados do local, a mulher deu entrada na clínica sem nenhum tipo de resistência. Vídeos da câmera de segurança mostram a idosa chegando normalmente com a filha na unidade.

A unidade médica repudiou o acontecimento e afirmou que a interdição da clínica interfere no tratamento de quase 80 pacientes, além de comprometer mais de 100 profissionais. Além disso, a Revitalis questionou, na nota, a conduta da outra clínica em que a idosa foi internada. Maria Aparecida afirmou que o tratamento na outra unidade, Clínica Vista Alegre, foi ameaçador.

Em nota, a clínica citada pela vítima afirmou que “realizou o tratamento devido e correto a esta paciente que, durante estadia, recebeu assistência médica e participou das atividades”. Ressaltou, também, que oferece esse tipo de serviço há mais de 70 anos e pintou que Maria Aparecida chegou na Clínica Vista Alegre através de uma empresa contratada pela família.

Maria Aparecida também prestou depoimento hoje. A idosa confirmou a tentativa anterior da filha de invadir a casa dela em janeiro. No início deste ano, ela afirma que foi surpreendida por um barulho na porta, por volta das 20h. Ao perguntar o que era, ouviu a filha e o genro mandando a idosa abrir, se não a porta seria arrebentada pelos dois.

Assustada, Maria chamou a polícia e só saiu de casa quando ouviu os carros da PM chegando. A filha, Patrícia, já havia chamado uma ambulância da SAMU e um chaveiro.

“Quando a polícia chegou, eu abri a porta. Eram muitos homens da SAMU: enfermeiros, uma médica. Minha filha estava ali, no meio de todo mundo, com meu genro e meus dois netos. A médica se dirigiu a mim e perguntou que remédio eu tomava, pediu para medir minha pressão, glicose, essas coisas. Depois falou com um parente meu que estava no telefone comigo e afirmou que eu estava bem. Que eu não tinha nada. Não me internou”, contou ela.

Abalada com o caso, a idosa lamentou ser surpreendida pela própria filha e revelou que o casal tinha interesse financeiro no sequestro dela.

“Foi muito triste. Eu não esperava isso dela, esperava que ela viesse conversar. Até agora, eu ainda não acredito […] Ela me internou em um dia, no outro, preparou o meu apartamento e alugou. Alugou o apartamento e a minha pensão, ela com certeza passaria a receber. Também tenho um dinheiro na justiça para receber, já está em precatório, e ela sabe disso”, reforçou Maria Aparecida.

O delegado do caso, Felipe Santoro, confirmou a informação sobre o aluguel do imóvel.

“Ela veio comunicar novos fatos aqui na delegacia. Logo após a sua internação, ainda no Carnaval, a própria filha anunciou o apartamento da idosa em um site e efetivamente locou esse apartamento para terceiros, a fim de auferir uma renda extra com essa locação”, explicou ele.

O delegado também informou que os diretores das clínicas envolvidas foram intimados a prestar depoimento hoje (28), mas os advogados remarcaram o pronunciamento para sexta-feira de manhã (3).

Os dois homens que levaram a idosa numa ambulância, depois de abordarem ela na rua do Catete, também eram esperados para prestar depoimento hoje (28).

RELEMBRE O QUE ACONTECEU

O caso veio à tona na sexta-feira passada (24), depois que a idosa, Maria Aparecida Paiva, foi resgatada da clínica psiquiátrica em que estava internada. As investigações apontam que ela foi sequestrada à mando da filha, Patrícia de Paiva Reis, e do genro, Raphael Machado Costa Neves. Os dois foram presos na sexta-feira (24), no bairro do Catete, na Zona Sul do Rio.

O casal está sendo investigado por outro crime: o irmão de Raphael, cunhado de Patrícia, morreu de forma suspeita em setembro de 2022. Sete meses antes da morte, os dois teriam contratado uma equipe para imobilizar Rodrigo em frente à casa onde ele morava.

*Sob supervisão de Natashi Franco