"A frase que eu sempre ouvi minha vó falar "nossas coisas que estão na mão da polícia". Nossas coisas que estão nas mãos da polícia”, disse a Iyalorixá mãe meninazinha de Oxum
Mãe meninazinha de Oxum ouviu essa frase da avó durante toda a juventude e decidiu começar uma luta que duraria mais de 30 anos: recuperar mais de 500 objetos sagrados apreendidos entre 1890 e 1946 pela Polícia do Rio de Janeiro. Uma época em que o Candomblé e a Umbanda eram religiões criminalizadas.
"É muito doído porque eu via o sofrimento dela e das tias antigas o mesmo sofrimento por causa da religião, e a minha avó falava com muito sentimento. A impressão é que ela estava sentindo dor e devia estar sentindo mesmo quando tocava nesse assunto. "Nossas coisas que estão na mao da polícia. Foi essa frase que me levou a brigar por conta do nosso sagrado. Eu ouvi desde criança cresci com isso guardado e quando ela falava estava me dando responsabilidade de procurar, ela estava me dando isso e eu fiz. Nós fizemos”, comentou mãe meninazinha de Oxum.
É essa luta que a Unidos da Ponte vai levar para a Marquês de Sapucaí no enredo "Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de mãe meninazinha de Oxum".
"Para além da homenagem a gente quer trazer a história do racismo religioso. O nosso sagrado tem um valor que para muitos pode ser simbólico pela questão dos objetor. Falar sobre Candomblé, Umbanda, é falar sobre ancestralidade. Então você tem toda uma questão não só dos ancestrais, mas de todos os praticantes que sofreram e que sofrem até hoje. Então a gente traz ela como personificação de uma luta diária que é muito necessária”, afirmou o carnavalesco Rodrigo Marques.
Em 2020, mãe meninazinha de Oxum conseguiu libertar a coleção de objetos sagrados que estavam esquecidos no museu da Polícia Civil. Hoje, o material está no Museu da República passando por um processo de restauração para que enfim seja exposto e simbolize a luta contra a intolerância religiosa.
HISTÓRIA DO ENREDO
A história da Iyalorixá já foi retratada em dois documentários que serviram de pesquisa para a escola.
"Esse é o desdobramento muito maravilhoso e muito feliz da gente celebrar essa vitória que é a transferência do acervo na Sapucaí com a unidos da ponte e com São João de Meriti. A importância dela para o Candomblé no Rio para as religiões como um todo, a sua liderança política e religiosa. Tenho certeza que vai ser um momento muito feliz entrar na Avenida com esse enredo, com essa história e com a importância para nossa sociedade”, falou o cineasta Fernando Sousa.
A Unidos da Ponte foi fundada em 1952 por duas famílias e inicialmente só desfilava em São João de Meriti. A partir de 1959 se filiou à associação das escolas de samba da cidade do Rio.
"Cantar, rodar, ter simpatia, rir bastante, estar bem maquiada, no desfile faço tudo, sempre alegre. Baiana é isso, apresentar bem a escola. Depois de baiana só resta a velha guarda para onde eu não quero ir (risos)”, disse Nereide Alves de Oliveira, que faz parte da agremiação há 60 anos e há 40 está na ala das baianas.
*Sob supervisão de Christiano Pinho