Com o objetivo de fazer uma abordagem contemporânea em forma de manifesto, a escola Lins Imperial, da Zona Norte do Rio, vai contar na avenida a história de João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã.
Considerado o primeiro artista transformista do Brasil, é um dos personagens mais emblemáticos da Lapa no século XX. O enredo é uma releitura do que foi apresentado em 1990 pela mesma escola, com várias adaptações.
“Por a Lins Imperial já ter apresentado esse enredo a gente fez questão de apresentar uma nova roupagem. Em 1990, a Lins fez com muita ousadia esse desfile. Nós fizemos uma pesquisa, escrevemos essa sinopse e estamos levando para a Avenida. Em 90, ele foi tratado com muito romantismo como bom vivant da Lapa e não deixa de ser, mas vamos por um lado mais biográfico”, disse o carnavalesco Edu Gonçalves.
Preto, nordestino e homossexual, Madame Satã fez da lapa seu próprio mundo. Até hoje, suas histórias percorrem os becos e as vielas do bairro. As pessoas dizem que ele era um homem violento e ao mesmo tempo delicado.
A ambiguidade era uma característica marcante e encantava o carnaval carioca com suas fantasias, mas era um criminoso capaz de matar e enfrentar a polícia. O apelido inclusive foi dado por um delegado que o reconheceu como ganhador de um concurso de carnaval quando ele foi preso. Para escrever o samba-enredo, os compositores tentaram dialogar os problemas da época com o brasil atual.
"Foi um desafio tremendo porque o enredo não é uma reedição, é uma releitura. Um novo olhar sob Madame Satã dialogando com o Brasil e as pautas emergenciais de hoje. Fazer diferente de 1990 é falar do Brasil atual ao contrário do que foi apresentado lá atrás sem essa questão social que hoje nós discutimos", falou Mateus Pranto, diretor cultural da escola.
Levar novamente Madame Satã para o enredo era um desejo dos integrantes da escola para comemorar os 60 anos de fundação, já que na década de 90, o enredo manteve a Lins no grupo especial. Agora, o desafio é outro.
“A gente tem que tirar da cabeça o que o bolso não tem. O espetáculo ficou cada vez mais caro. Então as pessoas procuram fazer cada vez melhor. Pesquisar material que seja mais em conta e dê o efeito que a gente precisa para o nosso sonho porque a gente sonha o luxo, a riqueza, o mais alto", comentou o carnavalesco Ray Menezes.
A Lins Imperial nasceu da fusão de duas escolas de samba do bairro. A última vez que a agremiação esteve no grupo especial foi em 1991. Esse ano, a Lins vai em busca de "resistir para existir”, frase que leva o nome do enredo.
“Hoje ele é muito mais que um nome, ele representa a bandeira LGBTI, dos movimentos renegados das travestis, dos corpos invisíveis. É muito mais que um nome. É um samba manifesto”, complementou Edu Gonçalves.
"Sob supervisão de Christiano Pinho