Carnaval 2023: “Em Cima da Hora” vai falar sobre a primeira advogada do Brasil

A escola tem o intuito de mostrar o poder de um orixá perante a justiça

Amanda Martins e Felipe Fera*

Carnaval 2023: “Em Cima da Hora” vai falar sobre a primeira advogada do Brasil
Mestre-Sala e Porta-bandeira da escola
Reprodução

Em 1770, uma mulher, negra, mãe e escravizada mandava uma carta endereçada ao governador da Capitania do Piauí. Era Esperança Garcia como forma de denunciar a violência que ela e outros escravos sofriam.

Agora, em 2023, a história dela vai ser contada pela Em Cima da Hora na Marquês de Sapucaí.

"Quando eu resolvi fazer, eu apresentei esse enredo sobre Esperança Garcia. Eu já tinha esse enredo de outro enredo. Eu tinha a vontade de fazer um enredo sobre uma mulher, achava isso muito importante nesse país", disse o carnavalesco Marco Antônio Falleiros.

O documento escrito por Esperança Garcia é considerado o primeiro habeas corpus que se tem registro no Brasil. No fim do ano passado, ela foi nomeada pela Ordem dos Advogados Brasileiros (OAB) a primeira advogada do país.

"A gente começa com africanidade da mulher negra com o nascimento da Esperança Garcia como filha de xangô que é o orixá da justiça. A gente quer mostrar ali o poder de um orixá perante a justiça. Depois é o grito de liberdade em que a gente mostra a vida da Esperança Garcia na fazenda onde ela trabalhava, onde ela escreveu a petição retratando os maus tratos que ela sofre. E o último setor é o grito de liberdade aonde a gente vai fazer uma homenagem a todas as marias que lutam contra o racismo e intolerância para aprender a escrever e ter o direito a formatura", falou Marco Antônio

Para uma história de luta como a de esperança, os compositores apostaram em um samba mais lento, mas sem perder o vigor do enredo.

"No Rio de Janeiro a gente tem o costume de falar em dolente quando fala sobre tons melódicos, mas não necessariamente por ser dolente o samba não é explosivo, não é bom para canto. E era o que pedia o enredo. A história da Esperança engloba muita luta, suor, então tem a ver com isso que a gente escolheu”, comentou o compositor Richard Valença

TRADIÇÃO DA ESCOLA

Fundada em 1959, a Em Cima da Hora é a representante do bairro de Cavalcanti, na Zona Norte do Rio. O nome foi dado durante uma reunião dos fundadores da escola que já se estendia pela madrugada. Um deles disse "tô em cima da hora de chegar em casa". Daí, veio o nome.

"Um enredo importante, forte, principalmente para o morador negro de comunidade. Sou formada há dois anos e a gente vive hoje uma luta que a Esperança Garcia lá atrás já começou. A luta pelos direitos de uma liberdade feminina com tantos casos que a gente vê hoje de feminicídio e a gente está sempre brigando constantemente com isso e o enredo trazer isso é muito importante. Eu entro não só feliz de estar desfilando pela minha escola, mas orgulhosa de estar ali representando o que é o dia a dia ne. Sou eu negra, mulher negra", disse Renata Crisina, uma das passistas da escola e advogada.

*Sob supervisão de Christiano Pinho