Após dez anos sem desfilar na passarela do samba, a Arranco do Engenho de Dentro, da Zona Norte do Rio de Janeiro, está de volta a Série Ouro do carnaval carioca para contar a história de Zé Espinguela. O sambista, pai de santo, jornalista e escritor foi o responsável por criar a primeira disputa entre escolas de samba. Neste ano, ele vai ter sua trajetória contada na avenida pela agremiação, que foi a primeira a desfilar na Rua Marquês de Sapucaí, antes mesmo da construção do Sambódromo.
“Ele fundou a Estação Primeira de Mangueira e plantou nesse chão a semente do carnaval que existe hoje. A gente brinca que o carnaval carioca nasceu onde o Arranco tem as suas raízes”, afirmou o carnavalesco da agremiação Antonio Gonzaga.
Na década de 50, um bloco carnavalesco do subúrbio carioca “arrancava” as pessoas de casa e levava uma multidão de foliões para pular carnaval por onde passava. O “Bloco dos Sujos”, como era chamado, se transformou na escola “Arranco do Engenho de Dentro”, em 1973. Durante a trajetória, a agremiação conquistou quatro títulos: três na Série Bronze e um na Série Ouro. No ano passado, foi a vice-campeã da Série Prata.
Homenagear Zé Espinguela na passarela do samba neste carnaval foi ideia do carnavalesco Antonio Gonzaga, que estreia este ano no posto.
“Assim que eu recebi o convite do Arranco, eu pensei ‘eu acho que o Arranco precisa de um enredo que fale sobre ele. É a volta do Arranco e as pessoas precisam se conectar com a escola de alguma forma’. E aí pesquisando um pouco sobre a história da escola eu encontrei o Zé Espinguela, que é um personagem desconhecido do grande público, não só dentro do Arranco, mas do carnaval de uma maneira geral”, explicou o carnavalesco.
Zé Espinguela, figura importante na história do carnaval carioca, criou a primeira disputa entre escolas de samba em 1929. Na época, o desfile aconteceu na Rua Adolfo Bergamini, na Zona Norte do Rio, mesma rua onde está a quadra do Arranco. Zé, que também era um líder religioso, tinha um terreiro onde, atualmente, é a sede da agremiação. Para continuar na Série Ouro, a azul e branco do Engenho de Dentro, que celebra 50 anos de fundação este ano, aposta na própria história para brilhar na avenida reverenciando o legado das gerações anteriores.
Além de voltar às raízes, a escola também resolveu fazer mudanças no carnaval de 2023 e, pela primeira vez, a agremiação vai contar com uma intérprete para entoar o samba deste ano, formando uma dupla com Diego Nicolau.
“Eu acho que a gente precisa que várias outras mulheres, e eu desejo isso para os próximos anos, que a gente continue a ocupar esse espaço, e a gente tem vários nomes dentro do carnaval que conseguem dizer ‘a gente dá conta sim, a gente pode’. É um lugar pra gente equiparar, buscar mais equidade”, disse a intérprete da agremiação, Pamela Falcão.
Na quadra da azul e branco, na Rua Adolfo Bergamini, muito trabalho está sendo feito para deixar tudo pronto para o grande dia.
“Tudo passa pela minha mão. As alas que tão fazendo, o coração da escola eu que tô fazendo... Tô muito feliz, muito feliz. A minha alegria, o meu coração quer é que fique em sexto, quinto. É ficar na Série Ouro”, disse a vice-presidente da escola Diná Costa.
No dia 17 de fevereiro, sexta-feira de Carnaval, primeiro dia de desfiles do carnaval 2023, a escola do Engenho de Dentro vai ser a primeira a brilhar na passarela do samba. A agremiação, que “abriu alas” antes mesmo da criação do Sambódromo, volta, este ano, para ser, novamente, a primeira a passar.
*Sob supervisão de Christiano Pinho