Brasil forma mais mulheres do que homens na medicina desde 2009

A expectativa é a de que o número total de médicas supere o de médicos ainda este ano

Beatriz Pereira*

Não é novidade que as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaços profissionais de destaque. O que pode surpreender é que o número de médicas formadas está aumentando, e logo elas passarão a ser maioria na profissão. Dados da Demografia Médica do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada na última segunda-feira (8), apontaram que há 15 anos, mais mulheres são cadastradas no CFM do que homens.

"Não foi sempre assim. Só tinha eu na época e na cirurgia bariátrica, então... na época que eu comecei tinham pouquíssimas mulheres, acho que três, quatro só no Brasil todo. Eu e mais umas três ou quatro mulheres só", conta Marília Espíndola, coordenadora médica do Centro Cirúrgico do Hospital Adventista Silvestre.

Hoje, os homens ainda representam ligeiramente a maioria entre a totalidade da classe, com 50,08% do total de médicos ativos com até 80 anos, enquanto as mulheres representam 49,92%.

Mas a situação já começa a mudar quando o olhar se volta às gerações mais jovens. No início de 2024, elas representaram 60% dos alunos que começaram a atuar na medicina, o que demonstra o fenômeno de feminização da área.

O ponto de virada para a formação de maioria feminina aconteceu ainda em 2009, e entre os médicos com 39 anos ou menos, as mulheres já são maioria absoluta, com 58% dos credenciamentos no Conselho. Mas profissionais da área ainda relatam o desafio para serem respeitadas pela posição conquistada e para superar as disparidades salariais e funcionais entre homens e mulheres.

"Com frequência quando a gente chega, a gente é abordado. 'Você é enfermeira'?, 'você é instrumentadora'? e nunca perguntam para a gente se eu sou a cirurgiã, eventualmente alguns pacientes questionam, 'mas você é tão nova', 'mas você é mulher', 'mas você é cirurgiã'... até quando veem a gente como médica, às vezes a gente vê numa posição hierárquica diferente", afirma a cirurgiã Munique Siqueira.

Nunca na história, o País contou com tantos profissionais de medicina como atualmente. A pesquisa mostrou que o Brasil tem 575.930 médicos ativos, um dos maiores quantitativos do mundo, numa evolução acelerada.

O número resulta em uma proporção de 2,81 médicos por mil habitantes, também a maior já registrada e que coloca a nação à frente dos Estados Unidos, Japão e China.

Durante muito tempo, a Medicina foi uma área profissional dominada pelos homens. As mulheres eram pouco presentes e, quando atuavam, eram relegadas a funções secundárias, tais como enfermeiras ou parteiras. Ao longo do tempo, elas foram ganhando espaço e conquistando seu lugar na área.

Mas antes de 1850, foram impedidas até mesmo de estudar Medicina em diversas partes do mundo. No Brasil, a primeira mulher a se formar no curso foi Rita Lobato Velho Lopes, em 1887, pela Faculdade de Medicina da Bahia.

Na população de médicos em atividade, os homens ainda predominam, mas no grupo com 29 anos ou menos as mulheres já são maioria. A tendência consiste na maior participação delas na profissão no Brasil, observada ao longo das últimas décadas e acentuada nos últimos anos.

A “feminização” da medicina só vêm ocorrendo por conta do incentivo à educação das meninas nas escolas e faculdades. O CFM prevê que será em 2024 que o número de médicas superará o de médicos.

"Na cirurgia também, a equipe médica composta majoritariamente por mulheres. É uma coisa que inspira, é uma coisa que encoraja a gente a poder sonhar grande e poder. Pensar em coisas maiores. A mulher tem uma coisa especial, carinhosa, e isso faz diferença", diz a estudante Caroline Rodrigues Monteiro.

*Sob supervisão de Christiano Pinho.

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