Das estreitas vielas diretamente para a um dos prédios mais imponentes da cidade, réplica de um edifício em Versailles, na França. Os alunos da Universidade das Quebradas, da UFRJ, deram início, nesta terça-feira (16), a um projeto para formação de novos escritores, todos de regiões periféricas do Rio de Janeiro, na Academia Brasileira de Letras (ABL).
As aulas ministradas na sede da ABL contam com um personagem central: Machado de Assis, um dos escritores mais renomados do Brasil, e também “Quebradeiro”, como a edição carioca foi nomeada. O curso apresenta um lado que, durante muito tempo, ficou escondido e evitado no meio acadêmico mais tradicional - Machado era um escritor negro, favelado e dono de uma estética moldada por valores periféricos.
Os 50 alunos contemplados iniciaram as aulas com pesquisadores da vida e obra de um dos maiores ícones literários que o mundo já viu. Cria do Morro do Livramento, na Providência, Machado de Assis é colocado como figura de exemplo para os jovens que querem mudar a realidade das famílias através dos textos.
“Chegar na ABL, a casa de Machado de Assis, é muito representativo. É incrível, ‘mano’, isso é histórico e é uma vitória”, disse Rose Brasil, que já foi aluna “quebradeira” e agora é coordenadora do laboratório.
A auxiliar administrativa Clatia Vieira é cria do Morro da Coroa, em Santa Teresa, e, aos 60 anos sonha em escrever sobre a luta das mulheres negras.
“Porque nós temos a oralidade e esses são os saberes que atravessam gerações. Para a população negra é importante que a gente registre a nossa escrita, história e resistência”, contou.
O curso de formação de escritores, com oito meses de duração, é uma parceria da Universidade das Quebradas com o Instituto Odeon. Depois de oficinas e seminários no Rio, o projeto, com apoio da Lei de Incentivo à Cultura e de empresas privadas, vai seguir para Belém e São Luís, em novas temporadas itinerantes pelo país.
*Sob supervisão de Christiano Pinho.