80% dos presos por engano passam mais de um ano na prisão, aponta pesquisa

A maioria das falhas, de acordo com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, acontece por conta de reconhecimento facial por foto

Beatriz Duncan

O relatório aponta que incriminados passam até seis anos encarcerados
Leonardo Teixeira/Band Rio

80% dos presos por engano no estado no Rio de Janeiro passam mais de um ano na prisão, segundo uma pesquisa divulgada pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro. A maioria das falhas acontece por conta do reconhecimento facial por foto. O relatório aponta ainda que alguns do incriminados chegam a passar até seis anos encarcerados, até serem absolvidos.

“As pessoas fazem o reconhecimento a partir de fotos retiradas de redes sociais ou fotos de celulares dos policiais, mas sem muito cuidado. Associamos isso ao fato da prova ser uma prova falha e a falta de rigor no processo de reconhecimento fotográfico. Também tem a questão da memória. Num crime de roubo, um assalto, a vítima passou por um momento de violência e muitas vezes nem teve tempo de prestar atenção na pessoa que cometeu o crime”, explica a diretora de estudos e pesquisas de acesso à justiça da Defensoria, Carolina Haber.

O Cláudio Júnior Rodrigues de Oliveira é motoboy e, ao todo, já soma 15 acusações, sendo absolvido em 14 delas. Ele conta que a foto dele foi parar no sistema da Polícia do Rio depois de ser parado em uma blitz.

“Eu tinha uns 17, 18 anos e fui abordado por policiais militares onde eu moro. E disseram que o sistema da viatura estava ruim e me levaram para a delegacia. Tiraram umas fotografias minhas e me liberaram. Logo depois vieram os processos. Eu estava foragido sem saber”, explicou ele.

Cláudio conta ainda que registra a todo momento onde está e para onde está indo através de fotografias e GPS do celular para sempre ter um álibi, caso seja reconhecido de forma errada novamente.

“Tiro fotografias durante o dia, deixo o GPS do meu telefone ligado para eu conseguir comprovar. (Tenho) a sensação de que a qualquer momento minha liberdade pode ser interrompida por causa dessa fotografia. Estou correndo atrás para limpar a minha ficha”, relata o motoboy.

OUTROS CASOS

Em agosto do ano passado, o cientista de dados Raoni Lázaro da Rocha Barbosa foi preso por engano depois de ser confundido com Raoni Ferreira dos Santos, acusado de fazer parte da milícia que atua na milícia na Baixada Fluminense.

Na ocasião, o cientista teria sido reconhecido por foto pelas testemunhas do caso. Acusação anulada logo em seguida. Raoni Lázaro foi solto em setembro de 2021, depois de 23 dias na cadeia pública de Benfica.

Em março deste ano, dois jovens de 19 anos, Marcos Nascimento e Kawan dos Reis, foram soltos por determinação da Justiça do Rio, depois de terem sido presos, acusados de roubarem pertences de turistas maranhenses.

Marcos foi abordado por policiais por ter características de um dos envolvidos no roubo. Um terceiro jovem, menor de idade, também foi preso e solto em seguida.

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