62% dos brasileiros não usam serviços de apoio à saúde mental, alerta estudo

Apenas 5% fazem psicoterapia, de acordo com o levantamento inédito. Renda, gênero e orientação sexual são fatores com maior associação à psique dos entrevistados.

Ericka Levigard*

Brasileiros apresentam déficit em índice que mede saúde mental
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Jovens, mulheres, pessoas trans e desempregados. Esses são alguns dos perfis com pior índice de saúde mental entre os brasileiros. Os dados são de uma pesquisa inédita lançada pelo Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), que analisa hábitos e situações que refletem positiva e negativamente a saúde psíquica.

Essa é a primeira edição do levantamento, cujo resultado ficou em 635 em uma escala de zero a 1000 pontos. Para chegar ao índice, os pesquisadores aplicaram um questionário usado internacionalmente em 2.248 pessoas, de todas as regiões do Brasil.

Pontuações mais baixas foram observadas entre desempregados, que ficaram abaixo dos assalariados e da média populacional. Da mesma forma, pessoas de baixa renda, mulheres e pessoas trans e não-heterossexuais apresentaram um índice de saúde mental pior que aquelas com maior salário, homens, pessoas cis e heterossexuais.

A Gerente Executiva do Instituto Cactus, Luciana Barrancos, afirma que o objetivo do índice é guiar políticas públicas e a priorização do tema em agendas sociais e políticas. Ela destacou que os dados foram desenvolvidos a partir de hábitos, preocupações e comportamentos sociodemográficos.

“Em relação à questão de gênero, o papel social da mulher impacta diretamente a sua saúde mental. A questão do machismo, da tripla jornada que enfrentam, da violência doméstica e dos diversos tipos de abuso, por exemplo, ajudam a explicar a diferença entre do índice comparado ao dos homens. É importante ter a dimensão estrutural e social, para entendermos como os fatores externos e a forma que lidamos com a saúde mental impacta cada demografia”, explica.

As respostas do iCASM foram agrupadas em três dimensões: confiança (733 pontos), vitalidade (637 pontos) e foco (535 pontos). A primeira reflete a autoestima e a autoconfiança sobre o papel na sociedade. A segunda diz respeito à disposição e à capacidade de ação para superar desafios e adversidades do cotidiano. A terceira é a habilidade de se relacionar com o entorno de forma produtiva.

Nas três dimensões, os homens obtiveram uma pontuação maior do que as mulheres, com resultado médio de 672 pontos, frente aos 600 pontos das mulheres.

Luciana reforçou que o levantamento revelou que 62% dos entrevistados não usam serviços de apoio à saúde mental e só 5% dos brasileiros relataram fazer psicoterapia. Além disso, 41% dizem estar insatisfeitos com serviços de saúde em alguma medida. Segundo a Gerente Executiva do Instituto Cactus, existe um acesso desigual aos serviços de saúde no Brasil.

“A população toda deveria cuidar da saúde mental de alguma forma, já que esse é um assunto de todas as pessoas. A distribuição geográfica não atende a todas as pessoas e regiões, além do subfinanciamento de saúde mental. Precisamos entender como os brasileiros cuidam da saúde mental e, também, criar uma estrutura de serviços de qualidade”, defende.

*Sob supervisão de Christiano Pinho.

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