Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, teve sua delação premiada homologada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em abril e, desde então, detalhou em depoimentos alguns esquemas do Primeiro Comando da Capital (PCC) como a lavagem de dinheiro, na qual ele atuava, além da participação da facção no mercado imobiliário e no futebol.
Gritzbach foi assassinado com pelo menos dez tiros na tarde da última sexta-feira (8) ao chegar de viagem no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos. Para a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a morte do delator não invalida a delação, mas a valoração das provas obtidas por meio do depoimento de Gritzbach precisará ser analisada.
"Quando o juiz for sentenciar, ele vai levar em consideração os termos homologados. A delação foi homologada em abril. Só que em um processo a prova tem que ser debatida, tem que ter ampla defesa, contraditório, ou seja, é uma prova que vai ser discutida e ele não está mais aqui para justificar. Vale como prova? Vale. Só que agora ele não estará mais presente. Como ela vai ser analisada e valorada aí é que vamos ter que analisar porque, teoricamente, nunca tivemos um caso como esse. A valoração da prova vai ser realizada pelo juiz do processo, no caso o juiz da vara de crime organizado e lavagem de dinheiro da capital. Isto, para quem defende, vai ser um trunfo muito bom", explicou a desembargadora em entrevista ao Bora Brasil, da Rádio Bandeirantes, nesta segunda-feira (11).
A valoração é a apreciação das provas produzidas ao longo de um processo judicial para que o juiz possa formar seu convencimento sobre o caso.
Mais cedo, em entrevista ao Jornal Gente, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya afirmou que Gritzbach não quis ingressar no programa de proteção a testemunhas. Ele afirmou ao MP que seu estilo de vida "não se ajustava ao programa". Desde então, o delator do PCC andava com escolta particular formada por policiais militares da ativa, que foram afastados após o assassinato.
Gakiya também defendeu que as provas colhidas em delação premiada seguem válidas. No último sábado, a Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para investigar a morte do delator.
No momento em que o empresário foi assassinado, ele carregava R$ 1 milhão em joias dentro da bagagem. A fortuna seria o pagamento de uma dívida. O tiroteio na saída do aeroporto também provocou a morte de um motorista de aplicativo, atingido por um tiro de fuzil nas costas.
"O que a facção fez é exatamente o que está lá no estatuto da organização criminosa. Aquele que delata, enfrenta a organização criminosa paga com a vida. Ele era um indivíduo que, com certeza, estava com os dias contados. É uma audácia que chama a atenção, afinal o aeroporto é uma área de segurança. Aí vemos que quando a facção dá uma ordem, ela será cumprida", avaliou a desembargadora Ivana David ao Bora Brasil.