YouTube remove mais 4 lives semanais de Bolsonaro por desinformação sobre a Covid

Um vídeo do presidente já tinha sido deletado no começo da semana por defender a hidroxicloroquina

Alexandre Bazzan

O YouTube removeu mais quatro lives do presidente Jair Bolsonaro que defendiam o uso de hidroxicloroquina e ivermectina para o tratamento da Covid-19. A plataforma confirmou nesta sexta-feira (23) que os vídeos foram removidos por “desinformação médica sobre a Covid-19”.

Na segunda-feira (19) a plataforma já tinha deletado um vídeo do presidente pelo mesmo motivo. Foram apagados vídeos publicados das lives semanais de 9 de julho de 2020, 26 de novembro de 2020, 10 de dezembro de 2020, 14 de janeiro de 2021 e 11 de fevereiro de 2021. 

Desde que foi eleito, Bolsonaro usa as lives semanais como forma de diálogo com seus eleitores e a população brasileira. Ele chegou a fazer as transmissões até mesmo durante viagens ao exterior.

As datas mostram que Bolsonaro seguiu defendendo os medicamentos sem eficácia, mesmo depois que as autoridades de Saúde, pesquisas e até fabricantes dos remédios recomendaram o contrário. Com frequência, o apoio ao tratamento precoce vem junto com críticas às medidas restritivas. 

Em 26 de novembro, o presidente questiona a efetividade das máscaras e diz que está "ciente das suas responsabilidades" ao defender o uso da hidroxicloroquina. 

Estou receitando tudo aí, tá

Na live do dia 10 de dezembro de 2020, enquanto Bolsonaro defende o uso dos medicamentos, o secretário de Assuntos Fundiários da Presidência Nabhan Garcia brinca: "O senhor está craque presidente, está igual médico". Bolsonaro responde: "Estou receitando tudo aí, tá". 

Na semana da crise do oxigênio em Manaus, em 14 de janeiro, o presdidente fez a live ao lado do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que tinha ido ao Amazonas defender o uso do "kit covid". 

O Ministério chegou a lançar um aplicativo que recomendava os medicamentos até para quem não tinha sintomas da doença. O sistema foi retirado do ar e Pazuello alegou falha técnica. Na referida live, o presidente cita o uso off-label, ou seja, uso para o qual ele não é recomendado em bula. Ele usa o mesmo argumento no vídeo de 11 de fevereiro. 

CPI da Covid

Na próxima terça-feira (27), o Senado vai instalar a CPI da Covid, que deve investigar as omissões do governo federal na pandemia, bem como o mau uso de verbas por parte de governadores e prefeitos. 

Alguns dos temas centrais da CPI devem ser a crise do oxigênio e o uso de dinheiro público para fabricação de remédios sem comprovada eficácia. 

Na página em que explica como funcionam as regras da plataforma, o YouTube explica que os usuários são avisados quando infringem essas regras e os reincidentes podem ter penas como o impedimento de novas publicações por 7 dias, depois por 14 dias e finalmente a remoção completa da página. 

O presidente Bolsonaro fez as publicações antes da mudança nas políticas de desinformação médica e não deve ser punido.

Em nota, o YouTube diz que os vídeos removidos desrespeitam as novas políticas de desinformação médica sobre a Covid-19. Leia a íntegra: 

“Como parte de nosso trabalho contínuo para apoiar a saúde e o bem-estar da comunidade de usuários do YouTube, expandimos recentemente nossas políticas de desinformação médica sobre a Covid-19. A menos que haja contexto educacional, documental, científico ou artístico suficiente, a plataforma irá remover vídeos que recomendam o uso de Ivermectina ou Hidroxicloroquina para o tratamento ou prevenção da Covid-19, fora dos ensaios clínicos, ou que afirmam que essas substâncias são eficazes e seguras no tratamento ou prevenção da doença. A atualização está alinhada às orientações atuais das autoridades de saúde globais sobre a eficácia dessas substâncias. Desde o início da pandemia, o YouTube já removeu mais de 850 mil vídeos por violarem as políticas de conteúdo da plataforma sobre o coronavírus.”

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