O presidente chinês, Xi Jinping, não participará da cúpula do G20 – grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia –, realizada no próximo fim de semana na Índia, em meio ao esfriamento das relações bilaterais. O primeiro-ministro Li Qiang comparecerá no lugar de Xi, anunciou o Ministério das Relações Exteriores da China.
O anúncio indireto foi feito nesta segunda-feira, por uma frase no website do ministério: "A convite do governo da República da Índia, o primeiro-ministro do Conselho de Estado, Li Qiang, participará na 18ª Cúpula do G20, a ser realizada em Nova Deli, Índia, nos dias 9 e 10 de setembro."
Antes, porém, agências de notícias já haviam adiantado a notícia, citando fontes chinesas e indianas não identificadas. Já neste domingo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expressou sua decepção pela ausência de Xi na cúpula : "Estou desapontado, mas vou lá vê-lo", comentou a jornalistas, sem dar mais detalhes sobre onde e quando pretende se encontrar-se com o líder chinês.
Relações abaladas
As relações sino-indianas esfriaram devido a disputas de fronteira, que há três anos resultaram num violento confronto que matou 20 soldados indianos e quatro chineses. A China e a Índia também entraram em conflito sobre o comércio e os crescentes laços estratégicos da Índia com o principal rival da China, os Estados Unidos.
A Índia ultrapassou recentemente a China como nação mais populosa do mundo, e ambas são rivais em tecnologia, exploração espacial e comércio global.
Já os laços bilaterais entre Pequim e Washington enfrentam uma longa lista de problemas, indo desde disputas comerciais, passando pelo futuro de Taiwan – que o gigante asiático considera seu território –, até à crescente presença chinesa no Mar do Sul da China. Os Estados Unidos estão tentando restaurar uma relação de trabalho mais eficaz, e nos últimos meses enviaram diversos altos funcionários à China, apesar dos atritos contínuos.
Outra ausência importante deverá ser a do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Os líderes do G20 que vão participar da conferência incluem, além do americano Joe Biden, os presidentes do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida.
Lula embarca na quinta para ìndia
O Brasil será representado na reunião pelo presidente Lula, que embarca na próxima quinta-feira para a Índia. A comitiva brasileira viajará logo após o desfile do Dia da Independência, na Esplanada dos Ministérios.
A cúpula marcará a reta final da presidência rotativa do bloco, atualmente exercida pela Índia, e que será assumida pelo governo brasileiro a partir de 1º de dezembro. Os dois países estão realizando uma série de reuniões preliminares e grupos de trabalho, inclusive em escala ministerial.
A programação oficial prevê pelo menos três sessões temáticas, que abordarão tópicos como desenvolvimento verde sustentável; meio ambiente e clima; transições energéticas; e o global net zero, a meta do zero líquido de emissões de carbono.
Outros assuntos, como crescimento inclusivo, cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), saúde, educação, infraestrutura, transformações tecnológicas, reformas multilaterais e futuro do trabalho e emprego, também estarão em pauta. O evento inclui ainda reuniões bilaterais entre diferentes líderes.
Presidência brasileira
Como em toda cúpula do G20, haverá uma cerimônia simbólica de transferência da presidência rotativa do grupo, que envolve mais diretamente Lula e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Há previsão de pronunciamentos do presidente brasileiro nas duas primeiras sessões e no encerramento do encontro, quando ele apresentará as prioridades e os desafios da futura presidência brasileira, a partir de 1º de dezembro.
Durante um evento no Rio Grande do Norte, na última sexta-feira, Lula afirmou que o combate às diversas desigualdades sociais deve nortear sua participação na cúpula.
"Eu vou lá para discutir com eles uma coisa que me incomoda, eu quero discutir a desigualdade. A desigualdade de gênero, a desigualdade racial, a desigualdade no tratamento da saúde, no salário, a desigualdade de uma pessoa que come 20 vezes por dia e a outra que fica 20 dias sem comer", afirmou.
A presidência rotativa do Brasil no G20 dura um ano, encerrando-se com uma nova cúpula, de 18 e 19 de novembro de 2024 no Rio de Janeiro.
md/av (EBC, Reuters, AP, AFP)