Mulheres no Afeganistão: volta do Talibã impactará principalmente entre as jovens

Para a jornalista Adriana Carranca, as afegãs tinham esperanças que a ocupação americana ajudaria a transformar o país

Da Redação, com BandNews TV

Um dos reflexos que mais preocupa a comunidade internacional após a volta do Talibã ao poder é em relação às mulheres afegãs, que tiveram alguns avanços nos seus direitos como cidadãs enquanto os extremistas estavam longe de dominar o Afeganistão.

O grupo prega a instauração de um regime com leis islâmicas baseadas na interpretação que fazem do Alcorão - o livro sagrado dos muçulmanos. Para o Talibã, mulheres não teriam direitos, não podem estudar, sair em público desacompanhadas e são forçadas a cobrir o corpo e o rosto.

Adriana Carranca, jornalista e autora do livro "O Afeganistão depois do Talibã - Onze Histórias do Onze de Setembro", acredita que as mulheres jovens serão as mais afetadas com a volta do grupo ao poder no Afeganistão após 20 anos.

Ela exemplifica a aflição das afegãs com o exemplo de uma violoncelista, a qual já havia entrevistado e voltou a falar na manhã desta segunda-feira (16). Considerada um talento da música, ela conseguiu bolsa em uma universidade americana, mas não conseguiu deixar o país a tempo.

“Ela me disse que as famílias estão sitiadas dentro de casa, com medo de sair às ruas por conta dos Talibãs que rondam as ruas, principalmente as meninas e as mulheres”, relata a jornalista, que esteve por quatro vezes no Afeganistão.

Os afegãos, em especial as mulheres, tinham muitas esperanças que a ocupação americana, em 2001, na esteira do 11 de setembro, ajudaria a transformar o país, da economia aos direitos humanos. Carranca aponta avanços para mulheres que viviam em grandes cidades, como a capital Cabul. Mas, no resto do país, o cenário de conservadorismo religioso pouco mudou.

“Essa juventude urbana, que mora em Cabul, realmente se beneficiou desse grande contingente estrangeiro, que ficaram concentrados em Cabul. Mas a verdade é que no resto do país tudo continuava na mesma situação”, explica.

Para a jornalista, os Estados Unidos perderam uma grande oportunidade de entregar o poder do país a uma geração mais empoderada e progressista de jovens para quebrar a corrente de opressão da interpretação de costumes milenares, mas deixaram com que o Talibã conseguisse se reconduzir novamente ao poder.

O grupo insurgente chegou à Cabul no fim de semana, derrubou o governo e voltou ao poder. A ofensiva militar começou em maio, quando as tropas estrangeiras passaram a se retirar do país.

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