Vinícolas envolvidas em trabalho escravo são suspensas da ApexBrasil

Agência do governo que promove exportações afirmou que empresas não poderão participar de feiras, missões comerciais e eventos promocionais

Da redação

Vinícolas envolvidas em trabalho escravo são suspensas da ApexBrasil
Trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão retornam à Bahia
Foto: Polícia Rodoviária Federal

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) informou nesta terça-feira (28) que as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton estão suspensas das atividades e iniciativas da agência. As três empresas teriam contratado uma terceirizada que usava mão de obra análoga à escravidão para colher uva na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.  

A ApexBrasil informou em nota que as empresas eram apoiadas pelo projeto ‘Wines of Brazil’, em parceria com a União Brasileira de Vitivinicultura. Na nota, a agência informa que as empresas estão suspensas de quaisquer iniciativas apoiadas pela ApexBrasil, como feiras internacionais, missões comerciais e eventos promocionais, até que as investigações sejam concluídas.

A agência teria solicitado à Uvibra um posicionamento quanto às condições de trabalho ao longo da cadeia produtiva do segmento, abrangendo empresas do projeto ‘Wines of Brasil’, que são 23 no total. 

“A ApexBrasil repudia qualquer ato de violação aos direitos humanos e trabalhistas, conforme diretrizes e normas internas de integridade, expressas em seu Estatuto Social, Código de Ética e Programa de Compliance”, informa a nota. 

Entenda o caso

No dia 22 de fevereiro, uma operação conjunta de diversas forças de segurança desbaratou um esquema de trabalho escravo em vinícolas em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Os resgatados eram terceirizados e foram levados ao Sul com a promessa de emprego, alojamento e alimentação, o que não acontecia na prática, conforme informaram as autoridades.

Em nota divulgada nas redes sociais, a vinícola Aurora repudiou a prática análoga à escravidão e disse que não sabia do fato. Além disso, informou que repassava R$ 6,5 mil à empresa terceirizada por funcionário, “acrescidos de eventuais horas extras”, mais três refeições por dia.

Outra vinícola, a Família Salton, também lamentou as denúncias e repudiou atos que violam os direitos humanos. A empresa destacou que atendeu a exigência legal na contratação da terceirizada, mas reconheceu que não fiscalizou in loco as condições trabalhistas.

“A Salton trabalhará prontamente, não apenas para coibir novos acontecimentos, mas para também para promover a conscientização das melhores práticas sociais e trabalhistas. Já nos colocamos à disposição das entidades públicas e representativas para colaborar com o processo”, escreveu a vinícola.

Quem também se manifestou foi o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG). Na nota divulgada no dia 25 de fevereiro, a entidade relacionou o que chamou de “sistema assistencialista” a situações de trabalhos análogos à escravidão em vinícolas. O texto ressalta a falta de mão de obra e necessidade de investimentos em projetos.

“Situações como esta [de trabalho análogos à escravidão], infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e Poder Público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema. Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade”, criticou a entidade.

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