Nem toda a cidade de São Paulo se resume à "selva de pedra”, poluição, trânsito caótico e pouca área verde. A maior metrópole do país tem um terço do seu território com muita área verde e até com áreas rurais, como Parelheiros, bairro do extremo sul da capital paulista.
Nestas áreas, produtores agrícolas que na maioria dos casos trabalham em pequenas unidades de agricultura familiar, produzem hortaliças, frutas, legumes e plantas ornamentais, parte deles orgânicos e em transição agroecológica.
A presença da agricultura na capital contribui para minimizar o avanço da urbanização e preservar uma área de florestas nativas e mananciais de água. A cidade de São Paulo tem terras indígenas da cidade, os Guarani, protetores originários desses territórios, que mantêm suas tradições e cultura.
Como exemplo de vida interiorana na maior metrópole da América Latina, o Band.com.br conversou com a Família Sassaki que produz diversos alimentos no sítio “Nossa Vida”, como abacate, abacaxi, soja, melancia e até café, todos os produtos são orgânicos.
Albert Sassaki acorda todos os dias às 5h, prepara um bom café, vai até a cocheira e tira leite da vaca. Colocar o cavalo no pasto, tratar das galinhas e pensar em manejos orgânicos de produção vegetal.
“Pensar na colheita, programar toda a cadeia logística para acessar o mercado e encontrar o equilíbrio sustentável tão desejável. Ainda há necessidade de gestão do organismo agrícola com planejamento, dividindo em ações de suprimento, produção, acesso ao mercado, vendas, marketing, turismo rural e outras metas de uma nano-empresa”, esse é o dia a dia do produtor rural na capital paulista.
Para ele, produzir alimentos em São Paulo é uma “grande superação”. “Primeiro entender o micro clima e as vocações da terra para planejar a produção, observar as PANCs (plantas alimentícias não convencionais) e plantas espontâneas, converter em produtos comerciais, criar receitas e/ou resgatar saberes ancestrais para reinserir no mercado”, reforçou.
O produtor reforça que, atualmente, o clima extremo provoca um desafio a mais na época do cultivo. “Diria os antigos, o agricultor é a pessoa que deve estar mais próximo a Deus, acordamos rezando, permanecemos rezando e dormimos agradecendo os livramentos”, destacou o produtor.
“Produzir alimento orgânico mantém a mentira de cultivar como a anos atrás, ou seja, o fator fundamental é o tempo de cultivo no solo, fazemos isso criando mecanismos artificiais que comprometem a vida no solo apenas pensando no boleto que temos para pagar e essa relação de tempo, na produção orgânica, é essencial para a manutenção da alimentação saudável e sustentável. Tempo, tempo e tempo: o recurso mais caro e escasso atualmente.
O contraste climático entre a cidade e o campo é bastante significativo e as dimensões territoriais apresentam micro clima bem diferente. O bioma Mata Atlântica oferece muita serenidade com os sons, clima da mata e o bem-estar”, destacou Sassaki.
Para Sassaki, se trata de um ambiente peculiar de muita paz, “não menos importante as preocupações com segurança e serviços públicos de zeladoria e manutenção da rede elétrica e atualmente de informação e entretenimento são péssimas”.
Sassaki tem residência em duas regiões da cidade (Barragem, em Parelheiros, e no bairro da Saúde). Segundo ele, planejar a demanda de suprimentos é algo fundamental para residir no campo. “A maior dificuldade é ter acesso a serviços básicos, muitos serviços não chegam”, pontuou citando exemplos de carro por aplicativo, delivery, internet e até TV digital.
“Sim, TV digital, diria que é o maior entretenimento do campo e quando desligaram as antenas analógicas, ficamos condicionados a trocar de TV ou comprar conversor com aumento de consumo de energia e o pior, o serviço não atende, basta garoar e o sinal digital desaparece”, criticou.
Ele reforça que o tempo que gasta para acessar a região central é o tempo que um agricultor do interior chega ao mesmo local, como no Mercado Municipal de Pinheiros, com tempo médio de duas horas.
“Não somos beneficiados com estrada de rodagem para reduzir o tempo da colheita ao mercado, o acesso é pelos bairros congestionados e que demandam muito tempo do produtor”, finalizou.
No Plano Diretor aprovado pela Câmara de São Paulo em julho do ano passado, há a previsão da política de Desenvolvimento Econômico Sustentável, para reforçar o papel da cidade como centro industrial, comercial, de serviços, criação e inovação, mas também incentivar a economia inclusiva e criativa
“Promover atividades econômicas sustentáveis nas zonas rural e urbana e estimular atividades econômicas que permitam equilibrar a relação emprego/moradia em todas as regiões da cidade na perspectiva de reduzir as desigualdades socioterritoriais e reduzir a quantidade de viagens e o tempo médio de deslocamento no município”, diz trecho do parágrafo.
Curiosidades sobre Parelheiros
O distrito de Parelheiros está localizado na Zona Sul de São Paulo e é o segundo maior distrito em extensão territorial da capital paulista. Grande parte do território é coberta por reservas ambientais, remanescentes da Mata Atlântica, e tem algumas áreas de proteção ambiental, além de aldeia indígena.
A região possui parte das bacias hidrográficas das Represas Guarapiranga e Billings, responsáveis pelo abastecimento de 30% da população da Região Metropolitana de São Paulo.
Uma curiosidade do bairro é a cratera de Colônia, sendo o principal patrimônio geológico da cidade de São Paulo. Foi descoberta no início da década de 1960, por meio de fotos aéreas e, posteriormente, por imagens de satélite.
A cratera, 3,6 km de diâmetro, foi criada com um impacto de um meteorito de estimados 200 metros de diâmetro em uma data estimada entre 36 milhões e 5 milhões de anos.