Os casos na Europa e Estados Unidos da chamada “varíola dos macacos” preocupam muita gente e geram o temor de uma nova pandemia. Até agora, existem mais de 200 casos confirmados ou suspeitos em cerca de 20 países onde o vírus não circulava anteriormente – a doença é endêmica em países africanos.
Em entrevista à Agência Brasil, o médico infectologista do Hospital Universitário de Brasília, André Bon, tranquilizou os mais preocupados. “De maneira pouco frequente essa doença é grave. A maior gravidade foi observada em casos de surtos na África, onde a população tinha um percentual de pacientes desnutridos e uma população com HIV descontrolado bastante importante”, explicou o especialista.
De acordo com uma publicação do Instituto Butantan, a varíola dos macacos é uma “zoonose silvestre” que, apesar de em geral ocorrer em florestas africanas, tem também relatos de ocorrência na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e, mais recentemente, na Argentina.
Como surgiu?
A varíola dos macacos foi descoberta pela primeira vez em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidos para pesquisa. O primeiro caso humano dessa variante foi registrado em 1970 no Congo. Depois foi relatada em humanos em outros países da África Central e Ocidental.
“A varíola dos macacos ressurgiu na Nigéria em 2017, após mais de 40 anos sem casos relatados. Desde então, houve mais de 450 casos relatados no país africano e, pelo menos, oito casos exportados internacionalmente”, segundo a publicação do Instituto Butantan.
Casos recentes
O primeiro caso recente foi identificado na Inglaterra. Depois, mais seis casos foram informados no país – nenhum deles envolvendo alguém que tivesse viajado ou tido contado com pessoas que viajaram, o que indica possível transmissão comunitária da doença.
A imprensa internacional vem relatando casos recentes da varíola dos macacos em outros países como Portugal, que confirmou mais de 20 casos, e Espanha, que relatou pelo menos 30. Há também casos confirmados nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Bélgica, França e Austrália, segundo a imprensa e os governos locais.
Quais são os sintomas?
O infectologista André Bon descreveu essa varíola como uma “doença febril” aguda, que ocorre de forma parecida à da varíola humana. “O paciente pode ter febre, dor no corpo e, dias depois, apresentar manchas, pápulas [pequenas lesões sólidas que aparecem na pele] que evoluem para vesículas [bolha contendo líquido no interior] até formar pústulas [bolinhas com pus] e crostas [formação a partir de líquido seroso, pus ou sangue seco]”.
De acordo com o Butantan, é comum também dor de cabeça, nos músculos e nas costas. As lesões na pele se desenvolvem inicialmente no rosto para, depois, se espalhar para outras partes do corpo, inclusive genitais.
Como evitar a transmissão?
A varíola dos macacos pode ser transmitida pelo contato com gotículas exaladas por alguém infectado (humano ou animal) ou pelo contato com as lesões na pele ou então por materiais contaminados, como roupas e lençóis, informou o Butantan. Uma medida para evitar a exposição ao vírus é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel.
O médico infectologista do HUB disse que a principal forma de prevenção dessa doença – enquanto ainda apresenta “poucos casos no mundo” e está “sem necessidade de alarde” – tem como protagonistas autoridades de saúde. “Elas precisam estar em alerta para a identificação de casos, isolamento desses casos e para o rastreamento dos contatos”, disse à Agência Brasil.
“Obviamente a utilização de máscaras, como temos feitos por causa da covid-19 por ser doença de transição respiratória por gotículas e evitar contato com lesões infectadas é o mais importante nesse contexto”, enfatizou Bon ao explicar que a varíola dos macacos é menos transmissível do que a versão comum.
O período de incubação da varíola dos macacos costuma ser de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias.
E a vacina?
André Bon explicou que as vacinas contra varíola comum protegem também contra a varíola dos macacos. Ele, no entanto, destacou que não há vacinas disponíveis no mercado neste momento. “Há apenas cepas guardadas para se for necessário voltarem a ser reproduzidas. Vale lembrar que a forma como a vacina da varíola era feita antigamente não é mais utilizada no mundo. Era uma metodologia um pouco mais antiga e atrasada. Hoje temos formas mais tecnológicas e seguras de se fazer a vacina, caso venha a ser necessário”, disse o médico.
Bon descartou a imediata necessidade de vacina no atual momento, uma vez que não há número de casos que justifiquem pressa. “O importante agora é fazer a observação de casos suspeitos”, disse.