Urna eletrônica é confiável e segura? Entenda como ela funciona

Sistema usado no Brasil desde 1996 possui criptografia e não é conectado à internet (ou qualquer outra rede)

Larissa Santos, do Band.com.br

Urna eletrônica é usada desde 1996 no Brasil Arquivo Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom
Urna eletrônica é usada desde 1996 no Brasil
Arquivo Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom

Ainda que não exista registro de fraude nas eleições brasileiras realizadas com a urna eletrônica desde 1996, o presidente Jair Bolsonaro questiona a integridade da tecnologia ao defender a volta do voto impresso no país. 

Para assegurar a segurança de uma urna eleitoral, existem diversas camadas de proteção de uma urna eletrônica, que vão desde lacres físicos até mecanismos digitais. A cada eleição, urnas eletrônicas passam por avaliações para garantir a segurança no dia do voto.

Como funciona a urna eletrônica brasileira?

As urnas eletrônicas são computadores que funcionam exclusivamente para receber e computar os votos da eleição. Um ponto importante para entender o funcionamento é que as urnas eletrônicas não são e não podem ser conectadas à internet ou qualquer outra rede. 

A urna é um microcomputador que é programado exclusivamente para calcular os votos de um pleito. 

Ela é composta por dois terminais. No primeiro, que fica com o mesário, é digitado o número do título de eleitor do cidadão, que identifica se a pessoa está apta a votar (se ela não tem irregularidades com a Justiça Eleitoral, como por exemplo pendências relacionadas às multas por não votar em anos anteriores sem justificativa de voto). Esse primeiro terminal também impede que um mesmo eleitor vote mais que uma vez, ou que um um cidadão vote pelo outro.

O mesário também tem três sinais visuais em seu terminal que o orientam: um indica se a urna está disponível para o eleitor; outro mostra se ele já votou; e um último sinaliza se a urna está ligada na bateria ou na tomada. 

Já o outro terminal, que é a própria urna eletrônica, registra o voto do eleitor. Ele é composto por duas baterias e duas placas de memórias para arquivar os dados. Esses "cartões de memória” foram desenvolvidos pela Justiça Eleitoral exclusivamente para as urnas eletrônicas, como um HD.  

Ao inserir o voto, ele é computado de forma que respeite o sigilo do voto de cada eleitor --ninguém, nem mesmo o mesário que está conectado ao terminal, vê o voto.

Uma urna eletrônica poderia ser fraudada ou invadida por um hacker?

Não. Por funcionar de forma isolada e não ter nenhum hardware que permita a conexão com ou sem fio com outros dispositivos, os riscos de ser acessada remotamente se tornam nulas. Isso significa que as urnas não podem ser manipuladas por hackers, por exemplo.

Os resultados dos votos são enviados para o TSE em uma rede criptografada própria: isso significa que a urna é apenas conectada por um cabo à rede elétrica.

Se algum eleitor tentasse invadir a urna eletrônica no momento da votação, dentro da cabine, as assinaturas digitais e bloqueios de segurança impediriam a violação, pois a própria urna tem um sistema de autobloqueio. 

A cada eleição são feitos testes públicos de segurança, onde desenvolvedores de tecnologia da informação tentam acessar e hackear o sistema, para então corrigir alguma eventual vulnerabilidade que apareça na tentativa. Se houver alguma tentativa de invadir e executar um sistema externo, todo o sistema da urna é bloqueado.

Como garantir a segurança da contagem dos votos?

Antes de iniciar o dia de votação, um comprovante chamado zerésima é impresso pelos mesários, atestando que não há nenhum voto computado naquela urna. 

Ao fim do dia de votação, o presidente da seção eleitoral digita uma senha digital em cada urna de sua seção para impedir que novos votos sejam computados. A partir deste momento, a votação naquela urna está encerrada.

Um novo comprovante, chamado boletim da urna, é impresso com o resultado daquele equipamento --ele mostra a somatória dos votos válidos por candidatos, branco e nulos. Não é possível ver qual eleitor votou em qual político. 

Uma cópia do boletim de urna é exposta na seção eleitoral, e outras são enviadas para os partidos políticos. Caso haja alguma dúvida, é possível comparar os resultados do boletim da urna impressos com os divulgados no site do TSE.

Um outro arquivo, chamado de Log, registra todas as ações da urna, como por exemplo o horário em que ela é ligada. Todos os arquivos gerados pela urna eletrônica não podem ser modificados, pois são protegidos pela assinatura digital.

A urna possui uma saída USB onde a mídia de memória, que é uma espécie pen drive, conhecida como Memória de Resultado, é conectada e recebe os dados da urna eletrônica de forma criptografada. Os dados da Memória de Resultado só podem ser lidos por equipamentos da Justiça Eleitoral, pois só eles possuem as chaves para as muitas camadas de segurança presentes. 

Como a urna eletrônica não é conectada à internet, o cartão de memória com os votos é levado para uma zona eleitoral, onde sua autenticidade é verificada. Só depois das checagens é que os dados são transmitidos ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que reenvia os números ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em lugares de difícil acesso, como por exemplo uma comunidade ribeirinha, os dados  --criptografados -- são enviados via satélite para o seu tribunal.  

Após o recebimento dos dados enviados, os TREs fazem o processo de totalização dos votos e envio para o TSE.

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