Diante da escalada da violência no Haiti, a União Europeia (UE) retirou todos os seus funcionários diplomáticos do país, disse um porta-voz do bloco nesta segunda-feira (11/03), que mencionou a "dramática deterioração da situação de segurança" na nação caribenha como motivo para a decisão.
Os Estados Unidos também estão retirando os funcionários da sua embaixada de Porto Príncipe e reforçando a segurança do prédio com forças adicionais.
No domingo, o Ministério do Exterior da Alemanha anunciou que o embaixador alemão havia deixado o Haiti e se instalado na República Dominicana. Um porta-voz do órgão justificou o fato com a "situação de segurança muito tensa e imprevisível". "Há várias gangues grandes e bem armadas que estão desafiando o Estado."
O governo haitiano solicitou o envio de forças internacionais de proteção para o país para ajudar a restaurar a segurança e a ordem, e disse que o Quênia, entre outros países, havia concordado em fazer isso.
Grupos criminosos tomando o poder
Gangues armadas que controlam a maior parte da capital Porto Príncipe, bem como as ruas do resto do país, estão atacando delegacias, prisões e tribunais. Há cerca de uma semana, grupos armados invadiram a prisão central de Porto Príncipe e permitiram que quase 3.600 dos quase 3.700 detentos escapassem. Outros prisioneiros fugiram do segundo maior centro de detenção na cidade de Croix des Bouquets.
Pouco antes, algumas gangues haviam anunciado uma revolta contra o governo, que declarou estado de emergência com toque de recolher noturno. A violência no Haiti aumentou quando o chefe de governo, Ariel Henry, estava em viagem oficial no Quênia.
Gangues armadas do país exigem a renúncia de Henry, que assumiu o cargo depois do assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, e deveria ter deixado o poder no início de fevereiro. Até o momento, ele não conseguiu retornar do Quênia para o Haiti. No final de fevereiro, Henry havia concordado em fazer um governo conjunto com a oposição até a realização de novas eleições.
De acordo com a Organização Internacional para Migração (OIM), a violência das gangues fez com que pelo menos 15 mil pessoas fugissem da capital Porto Príncipe em uma semana. Segundo as Nações Unidas, cerca de 1.200 pessoas foram mortas e quase 700 ficaram feridas no Haiti desde o início do ano. Mais de 313 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casa na mais recente onda de violência. Os serviços básicos do Estado, como o sistema de saúde, estão à beira do colapso e milhares de pessoas estão sem acesso à ajuda humanitária.
Igreja adverte sobre guerra civil
Representantes da Igreja Católica no país avaliam que o Haiti está à beira de uma guerra civil. As forças policiais são impotentes contra as gangues armadas, que se transformaram em um exército organizado, disse o arcebispo Max Leroy Mesidor à organização de ajuda internacional ACN.
Em algumas regiões, grupos de seguranças armados foram formados para combater as gangues. "Há o risco de eclosão de uma guerra civil. Há muitas armas em circulação", alertou o arcebispo da diocese de Porto Príncipe e presidente da Conferência Nacional dos Bispos. Nenhum lugar é realmente seguro, especialmente na capital, disse Mesidor. A igreja é um dos alvos da violência das gangues e de sequestros generalizados.
De acordo com a ONU, o país sofre com uma escassez de alimentos sem precedentes. Quase metade da população, ou cerca de 4,9 milhões de pessoas, não tem comida suficiente. O Haiti já é considerado o país mais pobre do hemisfério ocidental.
Nesta segunda-feira, a Jamaica sedia uma reunião com os chefes de Estado e de governo da Comunidade do Caribe (Caricom) para discutir formas de apoiar o Haiti e promover o diálogo político.
bl (afp, epd, rtr, kna)