A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) rebateu, nesta terça-feira (21), as declarações do vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), sobre os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na terra indígena do Vale do Javari, no Amazonas.
Nesta segunda-feira (20), durante entrevista no “cercadinho” de Brasília, o vice-presidente comentou sobre a possibilidade de haver um mandante no crime e que "deve ser um comerciante da região, que se sentiu prejudicado pelas ações de Bruno".
Ainda em sua fala, Mourão afirma que a morte de Dom foi "efeito colateral" e que o jornalista "entrou de gaiato na história". Para ele, os suspeitos são apenas "ribeirinhos que levam uma vida dura e vivem de pesca".
As falas do vice-presidente, no entanto, não agradaram a Univaja, que emitiu uma nota nesta manhã em que afirma que Mourão "demonstra desconhecer a região [do Vale do Javari]" e que sua declaração sobre Dom Phillips foi "desrespeitosa".
Segundo a nota publicada, as declarações de Mourão desconsideram o inquérito policial que aponta a existência de uma organização criminosa. "Não são apenas ribeirinhos, pois não teriam condições financeiras para extrair toneladas de ilícitos ambientais, exportar de forma ordenada, obtendo lucros milionários", afirmou a Univaja.
A Univaja também entende que o vice-presidente não está acompanhando as investigações. A entidade afirma estar preocupada com as "conclusões precipitadas". "Exigimos o aprofundamento das investigações, considerando os documentos produzidos e compartilhados pelo movimento indígena com as autoridades desde 2021".
Investigação
As mortes de Dom e Bruno foram confirmadas na última quarta-feira (15), após o primeiro suspeito, Amarildo da Costa, o "Pelado", confessar o crime à Polícia Federal. Eles estavam desaparecidos desde o dia 5 de maio, segundo a Univaja.
Segundo as investigações Dom e Bruno foram rendidos e mortos pela dupla. Os corpos foram decepados, esquartejados e queimados, e depois jogados em uma vala.
Ainda na quarta-feira, após a indicação do local da ocultação dos corpos, "remanescentes humanos" foram encontrados pelas equipes de buscas. Os restos dos corpos chegaram a Brasília na quinta-feira (16), onde foram periciados.
Na noite de sexta-feira (17), a Polícia Federal confirmou que um dos corpos encontrados é de Dom Phillips. Já no sábado (18), a perícia confirmou que os remanescentes de Bruno Pereira também foram identificados.
A perícia apontou ainda que Dom Phillips morreu com um tiro no peito disparado por uma arma de caça. Bruno Pereira recebeu dois tiros, um no tórax abdômen e outro na cabeça. Neste domingo (19), a embarcação usada por Dom e Bruno durante a viagem ao Vale do Javari foi encontrada no Amazonas.
Até o momento, há três presos suspeitos pelo envolvimento nas mortes do jornalista e do indigenista. Amarildo da Costa Oliveiora, o "Pelado", confessou o crime e indicou o local da ocultação dos corpos. Amarildo foi transferido para Manaus por medidas de segurança.
Já seu irmão, Oseney da Costa, o "Da Costa", foi reso na semana passada e teria ajudado a esconder os restos mortais de Bruno e Dom. Jeferson da Silva Lima, o "Pelado da Dinha", se entregou à polícia no último sábado. Ambos estão presos temporariamente em Atalaia do Norte.
A polícia afirma que os assassinos agiram sozinhos e que não há mandantes. A polícia agora investiga se a pesca ilegal realizada na região era para abastecer o crime organizado e o tráfico de drogas na região.