Embora seja comumente associado a idosos, cerca de 10% a 20% dos casos da doença de Parkinson acontecem em pessoas por volta dos 50 anos de idade ou até menos. O chamado Parkinson de início precoce já é bem conhecido na literatura médica, mas o assunto ganhou destaque recentemente após a jornalista Renata Capucci, de 49 anos, contar ao público que tem a doença e que recebeu o diagnóstico aos 45 anos.
“Embora esses casos em pessoas mais jovens não sejam exatamente uma novidade para a medicina, não há dúvidas de que está ocorrendo um aumento notório de diagnósticos em pessoas na faixa etária de 40 a 50 anos. Tenho uma paciente que foi diagnosticada aos 36 anos”, afirmou Andre Felício, neurologista e pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo Felício, uma das possíveis explicações para mais diagnósticos de Parkinson em adultos jovens seriam questões ambientais – como a exposição crônica a poluentes, por exemplo, ou até mesmo fatores associados a substâncias presentes em alimentos. “É claro que o ambiente, sozinho, não justifica o aumento de casos. Mas é um fator importante”, diz.
Fatores genéticos
A doença de Parkinson é caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios produtores de dopamina – uma substância relacionada com o controle sobre os movimentos do nosso corpo. O processo causa uma destruição progressiva dessas células nervosas e se manifesta com vários sintomas, sendo os mais conhecidos a rigidez muscular e o tremor involuntário.
O problema, ressalta Felício, é que no momento em que esses sintomas “clássicos” se manifestam e a pessoa recebe o diagnóstico de Parkinson, a doença provavelmente já estava instalada pelo menos uma década antes. Isso porque os primeiros sinais são inespecíficos e podem passar despercebidos: diminuição do olfato, intestino preso, depressão e transtorno do sono.
“Muito dificilmente um jovem de 40 anos que tem transtorno do sono vai suspeitar que tem Parkinson. Quando ela faz o diagnóstico, geralmente ele já perdeu 60% dos neurônios que produzem dopamina”, exemplifica o médico.
A maioria dos casos é multifatorial e acontece de forma esporádica, mas há um percentual de diagnósticos em que o paciente pode ter mutações genéticas. Segundo Felício, existem mais de uma dezena de mutações associadas ao desenvolvimento da doença (PARK 1, PARK 2, PARK3 etc.), embora a presença da mutação não signifique que a pessoa terá a doença em algum momento da vida. A mutação mais comum em adultos jovens é a PARK 2, enquanto em idosos é a PARK 8.
Oexame molecular para identificação das mutações, no entanto, não é um procedimento de rotina, pois, na prática, o desenvolvimento da doença e a condução do tratamento do paciente não muda. “Pelo menos por enquanto, o tratamento para os casos genéticos e o tratamento para o Parkinson tradicional, que é multifatorial, é exatamente o mesmo, por isso não há recomendação para a realização do exame molecular”, disse Felício, acrescentando que pede o exame para alguns dos seus pacientes para fins de estudo e pesquisas científicas.
A expectativa, diz Felício, é que no futuro o tratamento via terapia gênica seja uma alternativa de cura e uma realidade para pacientes que tenham o Parkinson de origem genética. “Quanto mais jovem o paciente, maior a chance de ele ter o Parkinson de origem genética. Há vários estudos em desenvolvimento na tentativa de descobrir possíveis medicamentos específicos para esses casos, por isso, eu imagino que os casos genéticos serão os que terão chances de cura primeiro”, afirmou.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Embora o senso comum associe o Parkinson apenas ao tremor, há um percentual de pacientes que sequer vão apresentar esses sintomas. Segundo Felício, o diagnóstico costuma ser clínico e complementado por exames de imagens, como ressonância magnética e ultrassonografia.
Os principais sintomas motores são lentidão + tremor de repouso; lentidão + rigidez muscular ou lentidão + desequilíbrio. A lentidão está presente em todos os casos e não envolve só a marcha: ela se caracteriza pela perda do automatismo dos movimentos. “Demora para piscar os olhos, manter a boca muito tempo aberta, caminhar com passos pequenos, dificuldade para fazer movimentos de pinça, não balançar os braços quando caminha. Tudo isso é reflexo da lentidão”, explica o neurologista.
A base do tratamento é oferecer dopamina exógena ou estimular a própria dopamina que a pessoa está fabricando de forma deficitária pelo organismo, usando remédios que estimulem essa produção, além de outros medicamentos periféricos que ajudam a melhorar sintomas. Outro possível tratamento, dependendo do caso, é a cirurgia para estimulação cerebral profunda, que tem avançado bastante.
“O Parkinson, seja de início precoce ou não, é a única doença neurodegenerativa que tem tratamento eficaz. Uma pessoa com Parkinson pode ter uma ótima evolução clínica e viver muito bem. Com os remédios é possível o paciente melhorar, não tem dúvidas. Cada paciente tem a sua doença e não dá para generalizar”, afirmou Felício, que ressaltou a importância do exercício físico como um fator de neuroproteção.