O populista de extrema-direita Javier Milei foi o mais votado nas eleições primárias deste domingo (13/08), destinadas a escolher os candidatos presidenciais às eleições gerais de outubro na Argentina, país assolado por graves problemas econômicos.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, cuja coligação amargou um terceiro lugar nas urnas, reconheceu ter "ouvido a voz" da população. "Ouvimos a voz do nosso povo. Agora começa a verdadeira campanha em favor da democracia e dos direitos do povo. Vamos continuar unidos, defendendo a pátria e trabalhando, cuidando dos direitos do povo", publicou na madrugada desta segunda-feira (14/08) o chefe de Estado em sua conta no Twitter.
Milei, um admirador do ex-presidente dos EUA Donald Trump, diz que o Banco Central da Argentina deve ser abolido, acha que a mudança climática é uma mentira, caracteriza a educação sexual como uma manobra para destruir a família, acredita que a venda de órgãos humanos deve ser legal e quer tornar mais fácil a posse de armas de fogo.
Com pouco mais de 96% dos votos apurados, Milei conseguiu 30,1%, se tornando o protagonista da eleição, a ser disputada com a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich e o atual ministro da Economia, Sergio Massa.
Esses três candidatos se enfrentarão nas eleições gerais a serem realizadas em 22 de outubro, com possível segundo turno em 19 de novembro.
A principal coligação da oposição, Juntos pela Mudança, de centro-direita, obteve 28,3%, na soma de seus dois candidatos, Bullrich e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. A atual coligação governamental, União pela Pátria, de Massa, conseguiu 27,2%.
"Fim à casta política"
Enquanto celebrava na sede eleitoral, Milei prometeu pôr "fim à casta política parasita, corrupta e inútil" do país. "Hoje demos o primeiro passo para a reconstrução da Argentina", disse. "Uma Argentina diferente é impossível com as mesmas pessoas de sempre", acrescentou.
Antes das eleições, os analistas tinham avisado que um resultado melhor do que inicialmente esperado para Milei, de 52 anos, provavelmente perturbaria os mercados financeiros e levaria a uma queda acentuada no valor do peso argentino, muito pela incerteza sobre as políticas econômicas que poderia adotar, caso se torne presidente.
Embora a votação de domingo tenha sido oficialmente para escolher candidatos para vários blocos políticos, também foi vista como uma sondagem nacional sobre a posição dos candidatos perante os argentinos para as eleições de outubro.
Milei, que é deputado na câmara baixa do Congresso argentino desde 2021, não teve concorrente nas primárias presidenciais do seu partido Liberdade Avança.
Descontentamento generalizado
O descontentamento é generalizado na Argentina, que se debate com uma inflação anual superior a 100%, o aumento da pobreza e uma moeda em rápida desvalorização. Milei atraiu votos ao apelar à substituição do peso pelo dólar americano.
Na principal coligação da oposição, Juntos pela Mudança, os eleitores também pareciam estar dispostos a deslocar-se mais para a direita, uma vez que a antiga ministra da Segurança, Patricia Bullrich, derrotou com facilidade um candidato mais centrista, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta.
A coligação governamental, União pela Pátria, foi derrotada pelos eleitores devido à crise econômica, terminando em terceiro lugar no total de votos.
Como esperado, o ministro da Economia, Sergio Massa, tornou-se o candidato presidencial da coligação, derrotando facilmente o esquerdista Juan Grabois. "Temos 60 dias para dar a volta a estas eleições", disse Massa a apoiadores.
O resultado sugere que muitos eleitores estão enviando a mensagem de que estão cansados das duas coligações que há anos dominam o cenário político da Argentina.
Os resultados "refletem o cansaço das pessoas em relação à liderança política e a falta de soluções dentro dos espaços que têm estado no poder consecutivamente", disse Mariel Fornoni, diretor da Management and Fit, uma empresa de consultoria política.
Quem são os candidatos?
Com os cabelos desgrenhados e um discurso agressivo contra o que chama de "a casta política", Milei se tornou o fenômeno que abalou o status quo nestas eleições primárias. "A casta tem medo." "Viva a liberdade!", bradou em seus comícios esse economista de 52 anos, deputado libertário e de extrema-direita que propõe a extinção do Banco Central, a permissão do porte de armas e a proibição do aborto.
Advogado de 51 anos, Sergio Massa assumiu o Ministério da Economia há um ano, em um dos piores momentos da prolongada crise argentina. Sorridente e elegante, ele tem a habilidade de apresentar as dificuldades como conquistas, pelo menos entre seus seguidores.
Aos 67 anos e envolvida na política desde a adolescência, quando integrou a Juventude Peronista na turbulenta década de 1970, em plena atividade da guerrilha dos Montoneros, Patrícia Bullrich se oferece como a mão pesada sem meias medidas para um país em crise. "Ou é tudo ou não é nada", grita em suas mensagens de campanha.
O prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta (57 anos), disputava o cargo, buscando o voto dos eleitores menos "politizados", segundo analistas. Uma das incógnitas é quem aqueles que votaram nele vão apoiar nestas eleições, Bullrich ou Milei.
md/cn (Lusa, EFE, AFP)