O ultradireitista Geert Wilders, cujo partido venceu as eleições legislativas de novembro passado na Holanda, anunciou nesta quarta-feira (13/03) que não será o primeiro-ministro do país devido à falta de apoio dos partidos com os quais tentava formar uma coalizão de governo.
"Só posso me tornar primeiro-ministro se todos os partidos da coligação me apoiarem. Não foi este o caso", afirmou Wilders em postagem na rede social X, após quase quatro meses de negociações em busca de uma solução.
Em 23 de novembro, o Partido da Liberdade (PVV), liderado por Wilders, venceu as eleições legislativas com um discurso abertamente antieuropeu e islamofóbico.
Sua mensagem anti-imigração, que inclui o fechamento de fronteiras e a deportação de imigrantes ilegais, parece ter repercutido profundamente entre os eleitores holandeses, embora o PVV tenha ficado aquém de uma maioria que lhe permitiria governar sozinho.
No altamente fragmentado sistema político holandês, onde nenhum partido é suficientemente forte para governar sozinho, o anúncio dos resultados eleitorais marca o início de meses de negociações.
Nos últimos dias, o jornal holandês Algemeen Dagblad descreveu as conversações como uma "catástrofe à espera de acontecer", repleta de "veneno, críticas mútuas e fofocas".
Com o impasse, o atual primeiro-ministro, Mark Rutte, permanece no cargo enquanto o país aguarda a formação de um novo governo. Ele, no entanto, é o favorito se tornar o próximo secretário-geral da Otan.
Discurso suavizado
Wilders, de 60 anos, e seu cabelo oxigenado fazem parte do cenário político holandês há décadas, onde construiu a sua carreira numa cruzada contra o que chama de "invasão islâmica” do Ocidente.
Nem os seus desentendimentos com a Justiça holandesa, que o considerou culpado de insultar os marroquinos – a quem chamou de "escória" – nem as ameaças de morte, que o mantiveram sob proteção policial desde 2004, o desencorajaram.
Durante a campanha, o ultradireitista procurou polir sua imagem, suavizando algumas das suas posições mais polêmicas. Em particular, afirmou que existem "problemas mais sérios” do que a redução do número de requerentes de refúgio e que poderia deixar de lado algumas das suas posições anti-Islã, prometendo concentrar-se mais na "segurança e saúde”.
No dia da votação, ele chegou a afirmar que iria ser um primeiro-ministro para "todos na Holanda, independentemente de religião, origem ou sexo”.
Analistas políticos apontam que a desistência de Wilders não significa um grande sacrifício para o ultradireitista. Ele poderá ter um papel importante como líder de sua bancada no Parlamento, sem estar sujeito às críticas e responsabilidades do cargo de primeiro-ministro.
rc (Lusa, DPA)