UE se opõe ao cerco de Israel à Faixa de Gaza, diz chefe da diplomacia do bloco

Ampla maioria dos países europeus se diz contrária à suspensão da ajuda humanitária ao enclave. Biden anuncia reforço da ajuda militar dos EUA e lamenta mortes de americanos, enquanto Irã nega envolvimento nos ataques.

Por Deutsche Welle

UE se opõe ao cerco de Israel à Faixa de Gaza, diz chefe da diplomacia do bloco
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O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, afirmou nesta terça-feira (10/10) que a maioria absoluta dos países do bloco é contrária à suspensão da ajuda humanitária à Autoridade Palestina, após o ataque brutal do grupo terrorista Hamas a Israel há quatro dias, que deflagrou uma nova onda de violência na região.

Após o término de uma reunião de emergência realizada em Mascate, capital do Omã, nesta terça-feira, os ministros do Exterior dos 27 Estados-membros da UE pediram que Israel mantenha o fornecimento de água, alimentos e eletricidade ao território palestino.

"Israel tem certamente o direito de se defender, mas isso deve ocorrer de acordo com os princípios das leis humanitárias internacionais. Pedimos também a libertação dos reféns, assim como o acesso a água, alimentos e remédios, que devem também estar de acordo com as leis", disse Borrell.

"Algumas decisões [israelenses] foram contrárias às leis internacionais", criticou o diplomata. Os europeus, segundo afirmou, pedem "uma solução política que possa evitar de vez esse ciclo de violência."

Nesta segunda-feira, Israel ordenou um "cerco total" a Gaza, cortando o fornecimento de eletricidade, água, combustível e comida para o enclave, enquanto continua a realizar bombardeios sistemáticos contra alvos do Hamas em Gaza.

Desde sábado, foram centenas de incursões aéreas israelenses no enclave, espremido entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo, habitado por pouco mais de 2 milhões de palestinos.

"Nem todos os palestinos são terroristas"

Borrell assegurou que o envio de ajuda financeira à Autoridade Palestina deve ser mantido e ocorrer sem atrasos, e pediu a criação de "corredores humanitários para ajudar as pessoas que querem escapar dos bombardeios em Gaza" través da fronteira com o Egito.

"Nem todos os palestinos são terroristas", disse Borrell. "Uma punição coletiva contra todos os palestinos será injusta e improdutiva; contra nossos interesses e contra os interesses da paz." O diplomata europeu disse que o ministro do Exterior de Israel e seu homólogo palestino recusaram convite para participarem da reunião com os ministros europeus.

Bruxelas retrocedeu de comentários feitos anteriormente pelo comissário para Ampliação e Política de Vizinhança da UE, o húngaro Oliver Varhelyi, que chegou a anunciar que todos os pagamentos do programa de desenvolvimento para os palestinos seriam "imediatamente suspensos”.

Entretanto, o Executivo da UE deu início a uma análise em caráter de urgência para averiguar se fundos enviados para o território palestino teriam sido desviados para o Hamas.

Contagem de reféns e vítimas aumenta

Nesta terça-feira, a contagem de mortos do lado israelense já era de mais de mil, no pior ataque ocorrido nos 75 anos de história deste a fundação do Estado de Israel. Em Gaza, autoridades locais relataram 756 mortes.

Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel afirmou que 1,5 mil corpos de terroristas do Hamas foram encontrados dentro do território israelense após três dias de combates.

"Por volta de 1,5 mil corpos de combatentes do Hamas foram encontrados em Israel e ao redor da Faixa de Gaza", disse o porta-voz militar Richard Hecht. Ele ainda afirmou que as forças de segurança haviam "mais ou menos restaurado o controle da fronteira" com Gaza.

"Desde ontem à noite [segunda-feira], sabemos que ninguém entrou", disse o porta-voz. No sábado, terroristas do Hamas romperam a cerca que divide Gaza e Israel em mais de duas dezenas de pontos. Hecht, porém, advertiu que "infiltrações ainda podem ocorrer".

Mais de uma centena de israelenses e estrangeiros que estavam no país também foram sequestrados pelo Hamas e levados para Gaza como reféns. Nesta terça-feira, o embaixador israelense nas Nações Unidas estimou que número de reféns estaria entre 100 e 150.

Entre os civis assassinados em Israel estão cidadãos dos EUA e França. Várias vítimas participavam de um festival de música que ocorria a poucos quilômetros da fronteira com Gaza e que foi alvo de um ataque de homens armados do Hamas. No local, foram encontrados pelo menos 260 corpos.

Outros 107 corpos também foram encontrados no kibbutz isralense de Be'eri, uma comunidade rural que tinha cerca de mil moradores antes do ataque terrorista. Muitos dos mortos eram moradores, mas também foram encontrados corpos de forças de segurança israelenses.

Dois brasileiros que participavam de uma rave próxima à fronteira com a Faixa de Gaza, que se tornou alvo do Hamas, foram encontrados mortos no local.

Biden lamenta mortes de americanos

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou em pronunciamento na Casa Branca que 14 americanos morreram nos quatro dias de violência entre o Hamas e Israel, e disse que outros estão sob poder dos terroristas. No total, o Hamas detém em torno de 150 reféns, incluindo mulheres, idosos e crianças.

O democrata condenou o ataque do Hamas como "crueldade pura" e disse que seu país está pronto para reforçar o envio de ajuda militar a Israel. Biden advertiu os "adversários" dos israelenses para não se envolverem no conflito, numa clara mensagem para o Irã.

Antes do pronunciamento, o presidente e a vice, Kamala Harris, conversaram com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, para "discutir a coordenação do nosso apoio a Israel".

Além de reforçar a ajuda militar a Israel e ordenar o deslocamento de um porta-aviões e de navios de guerra para a região, Biden disse que os EUA estão prontos para enviar mais recursos ao país aliado.

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que Washington ofereceu sua expertise em inteligência e no resgate de reféns.

Teerã nega estar por trás dos ataques

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, negou nesta terça-feira que seu país tenha tido qualquer envolvimento nos ataques do Hamas a Israel, mas exaltou o que chamou de uma derrota "irreparável" militar e de inteligência os israelenses.

Em pronunciamento transmitido em rede nacional, ele disse que seu país "beija as mãos" dos autores dos ataques. "Esse terremoto de destruição demoliu algumas infraestruturas críticas [em Israel] que não serão restauradas facilmente. As ações do regime sionista são as grandes culpadas por esse desastre", declarou.

Israel acusa os clérigos iranianos que governam o país de fomentarem a violência ao fornecerem armas ao Hamas. O Irã, que não reconhece o Estado de Israel, alega prover somente apoio financeiro e moral ao grupo terrorista.

O apoio à causa palestina é um dos pilares da República Islâmica desde a revolução de 1979, e uma das formas utilizadas pelo regime iraniano para manter sua posição de liderança no mundo muçulmano.

A missão do Irã na ONU já havia negado no último domingo que o país estivesse por trás do ataque. Os diplomatas disseram que Teerã apoia "de forma enfática e inequívoca a causa palestina", mas rejeitou envolvimento.

rc (AFP, Reuters)

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