Ucrânia dispara pela 1° vez mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA, diz Rússia

Rússia afirma que ucranianos dispararam seis mísseis de longo alcance e que cinco foram abatidos

Por Deutsche Welle

Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS
United States Army/Handout via REUTERS/File Photo

O Kremlin afirmou nesta terça-feira (19) que os ucranianos lançaram pela primeira vez mísseis balísticos ATACMS de fabricação americana contra o território russo.

O episódio ocorre dois dias após o presidente Joe Biden autorizar Kiev a usar as armas de longo alcance para esse tipo de ataque, segundo relatos da mídia dos EUA e de agências de notícias, e no mesmo dia em que a Rússia anunciou uma nova doutrina nuclear que flexibiliza situações em que armas atômicas podem ser empregadas.

Segundo as autoridades russas, cinco mísseis foram abatidos e um sexto atingiu as instalações de um recinto militar na região fronteiriça de Bryansk sem causar danos ou deixar feridos. "Como resultado, foi deflagrado um incêndio que foi extinto operacionalmente. Não há mortos ou feridos", afirmou um comunicado militar publicado no Telegram.

O ataque foi realizado às 3h25 da manhã,(horário local) "segundo dados confirmados, com a utilização de mísseis táticos ATACMS de fabricação americana”.

As baterias antiaéreas S-400 e Pantsir derrubaram cinco dos mísseis, detalhou o comunicado.

Anteriormente, o Estado-Maior ucraniano havia reportado um ataque bem-sucedido contra um arsenal do Exército russo localizado na região de Bryansk, sem fornecer detalhes sobre as armas utilizadas.

Autorização e reação de Moscou

O ataque ocorre pouco depois de vários meios de comunicação americanos terem informado que Washington permitiu que a Ucrânia utilize seus mísseis contra alvos militares dentro da Rússia. O Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS, tem um alcance de até 306 quilômetros, permitindo ataques mais profundos na Rússia.

A autorização ocorreu pouco antes de a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia completar mil dias, e num momento em que milhares de soldados norte-coreanos foram enviados para ajudar a Rússia a retomar território ocupado em agosto pelos ucranianos na região russa de Kursk; e também no mês em que ocorreu a vitória nas eleições americanas de Donald Trump, que disse que daria um fim rápido à guerra e questionou o apoio contínuo dos Estados Unidos a Kiev.

Segundo os veículos da imprensa americana, a Casa Branca deu sinal verde a Kiev apenas para atacar alvos localizados na região de Kursk. O governo americano não confirmou nem desmentiu oficialmente as informações.

Na segunda-feira, o Kremlin prometeu uma resposta apropriada caso Kiev utilizasse os mísseis de longo alcance fornecidos por Washington para atacar alvos dentro da Rússia.

"O uso de mísseis de longo alcance por Kiev para atacar nosso território significaria a implicação direta dos Estados Unidos e de seus aliados nas hostilidades contra a Rússia, e uma mudança radical na essência e natureza do conflito", declarou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.

Nova doutrina nuclear

Ainda nesta terça-feira, antes da divulgação do ataque com mísseis americanos, o líder da Rússia, Vladimir Putin, aprovou uma doutrina que prevê que ataques convencionais que ameaçam a soberania da Federação Russa e de Belarus sejam respondidos com o uso de armas nucleares.

"A decisão sobre a utilização de armas nucleares é tomada pelo presidente da Federação Russa", afirma o documento, em alusão a Putin, que também é comandante supremo das Forças Armadas.

A doutrina, que substitui a promulgada em 2020, autoriza um ataque nuclear no caso de o ataque convencional inimigo representar "uma ameaça crítica à soberania e (ou) integridade territorial" de ambos os países, que constituem a União Estatal Rússia-Belarus.

O documento também considerará "ataque conjunto" a agressão de um país que carece de armas atômicas, mas conta com o apoio – quer envolva ou não sua participação direta – de uma potência nuclear.

A doutrina, publicada no portal de informação jurídica do Estado russo, amplia a categoria de alianças militares contra as quais a Rússia aplicará a estratégia de dissuasão nuclear.

"A agressão de qualquer Estado pertencente a uma coalizão militar (bloco, aliança) contra a Federação Russa e (ou) seus aliados é vista como uma agressão da coalizão como um todo", ressalta.

Estas duas últimas cláusulas são consideradas pelos analistas como um aviso claro aos Estados Unidos e à Otan, caso decidam envolver-se diretamente no conflito na Ucrânia.

A Rússia também pode recorrer a armas nucleares no caso de um "ataque massivo" com aviões de guerra, mísseis de cruzeiro, hipersônicos, drones e outros dispositivos não tripulados que violem o espaço aéreo do país.

Pela primeira vez, o documento refere-se não apenas à aviação e aos dispositivos hipersônicos inimigos, mas também aos drones, um instrumento de guerra que ganhou grande popularidade nos últimos anos.

Por sua vez, a Rússia implementará medidas de dissuasão nuclear no caso de um inimigo potencial possuir sistemas de defesa antimísseis, mísseis de cruzeiro de médio e curto alcance, entre outras armas, que possam ser utilizados contra a Rússia.

O mesmo será aplicado no caso de as alianças militares existentes integrarem novos membros, o que aproximaria perigosamente sua infraestrutura militar das fronteiras russas; assim como em caso de planejamento e realização de exercícios militares em grande escala perto das fronteiras russas.

Em uma clara referência ao enclave báltico de Kaliningrado – rodeado por países da Otan –, outro ponto faz referência à adoção de medidas de dissuasão no caso de o potencial inimigo tomar medidas para "isolar parte do território da Rússia", o que incluiria o bloqueio do acesso a vias de comunicações vitais.

Ao mesmo tempo, a doutrina enfatiza que a Rússia vê as armas nucleares como "um instrumento de dissuasão" de natureza defensiva, cuja utilização é uma "medida extrema e forçada".

A imprensa local considera que a nova doutrina significa que o Kremlin baixou o limite para o uso de armas nucleares, uma vez que a anterior permitia o uso de armas atômicas apenas se a própria existência do Estado russo estivesse ameaçada.

Putin havia anunciado as mudanças na doutrina nuclear no final de setembro, mas promulgou-as justamente quando se completam mil dias de combates na Ucrânia.

jps (EFE, ots)

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