A Ucrânia conseguiu mudar o foco da guerra de 30 meses para dentro da Rússia, no quarto dia de sua ofensiva que chegou agora a 400 quilômetros ao sul de Moscou, com o ataque à base aérea militar russa Lipsk-2, na região de Liptsk.
As forças russas enviadas para contra-ataque em Kursk foram contidas pelos ucranianos, que quase as dizimaram totalmente. A Rússia decretou estado de emergência em vários distritos. Chuvas de drones da Ucrânia foram interceptados em Liptsk, Belgorod, Kursk, na Criméia e Bryansk. Os russos dispararam drones em Poltava, Sumy, Mykolaiv, Kherson, Donetsk e Dnepropetrovsk, com 27 deles interceptados.
Os blogueiros militares russos destacam que até os jornais mais pró-Kremlin desta sexta-feira atribuem “algum sucesso” à ofensiva ucraniana. Um deles publicou que “o inimigo está agindo com habilidade e ousadia”. A TV russa mostrou vídeos de colunas de caminhões carregando metralhadoras pesadas e tanques em direção a Kursk.
A pergunta que se repete desde o início da ofensiva, na terça-feira, ainda está sem resposta, dado ao silêncio ucraniano: Por quê? Para quê? E, agora, como será mantido o território ocupado, sob fase de consolidação? A especulação é a de que os ucranianos estão aliviando a pressão em outras frentes da invasão russa de 30 meses, atraindo suas forças para dentro da própria Rússia. Outra hipótese: a Ucrânia está conquistando território russo para trocá-lo por terras ucranianas sob controle russo.
Os últimos ataques à base aérea russa Liptsk-2 provocaram enormes explosões nos arsenais de bombas aéreas guiadas, e daí um incêndio. Pequenos grupos de soldados ucranianos estão agindo como numa guerra de guerrilhas, atacando vários alvos distantes dos centros de combate. Um analista militar em Viena, Franz-Stefan Gady, disse ao jornal New York Times desta sexta-feira:
“Parece tratar-se de uma operação armada combinada bastante bem coordenada e planejada. Há meios de guerra eletrônica, utilizados para bloquear o comando e o controle russos. Há defesas aéreas que foram deslocadas para criar bolhas de defesa aérea em volta do avanço ucraniano. E depois temos formações mecanizadas bastante eficazes avançando em ritmo constante”.
O grupo finlandês Black Bird publicou na plataforma X alguns mapas do avanço ucraniano, que já dominaria 160 quilômetros quadrados de território russo. Um de seus analistas, Emil Kastehlmi, confirma a ação de guerrilha ucraniana a 80 quilômetros da fronteira, na direção de Lgov: “Os ucranianos avançaram ainda mais em todas as direções. Eles têm pelo menos o controle parcial de Sudzha e estão avançando na direção de Koronevo-Rylsk. Destacamentos menores operam na área da estrada Sudzha-Lgov”.