O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acompanhou nesta segunda-feira (02/01) do banco dos réus o primeiro dia do julgamento no qual é acusado de fraude empresarial. Ele aproveitou para criticar seus detratores e repetir o discurso de que estaria sendo vítima de uma "vingança política".
O estado de Nova York acusa o ex-presidente e sua empresa de ludibriar durante anos bancos, empresas de seguros e outras instituições, ao informar dados falsos sobre seus rendimentos em seus relatórios financeiros.
O juiz Arthur Engoron decidiu no final de setembro que Trump cometeu fraude empresarial enquanto construía o império imobiliário que o catapultou para a fama e também para a Casa Branca.
O magistrado concordou com a Procuradoria-Geral de Nova York, que acusou o ex-presidente, seus filhos Donald Jr. e Eric e diretores das Organizações Trump de inflacionarem artificialmente o patrimônio da empresa.
Segundo a ação movida em setembro de 2022, os imóveis cujos valores teriam sido inflacionados incluem a mansão de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, a cobertura na Trump Tower, em Manhattan, além de vários edifícios de escritórios e campos de golfe.
Engoron considerou que a acusação, liderada pela procuradora-geral Letitia James, demonstrou que há responsabilidade por parte dos réus e ordenou que as licenças comerciais de todos em Nova York fossem canceladas.
Fraudes renderam mais de US$ 1 bi
O advogado Kevin Wallace, integrante da equipe de James, afirmou no início do julgamento que Trump e os demais acusados faturaram mais de um bilhão de dólares ao inflacionarem os valores das propriedades. Os lucros eram obtidos através de prêmios de seguradoras e de condições mais favoráveis para empréstimos bancários.
"Isso não é business as usual; essa não é a forma como atores sofisticados agem uns com os outros", disse o advogado de acusação. "Esses não são crimes sem vítimas."
"Eles mentiam, ano após ano, após ano", disse Wallace. Trump, com expressão irritada e de braços cruzados, evitava olhar para a tela com os detalhes das informações mostradas pelo advogado.
"Eles escondiam sua vulnerabilidade e convenciam esses bancos a assumirem riscos de milhões de dólares", disse Wallace. "Ao mesmo tempo em que os réus podem exagerar [suas fortunas] à revista Forbes ou para a televisão, eles não podem fazê-lo ao realizarem negócios no estado de Nova York."
Segundo um documento da corte, a Procuradoria alega que Trump exagerou o valor de seus imóveis em até 3,6 bilhões de dólares.
Sua cobertura na Trump Tower foi registrada com valor estimado em 327 milhões de dólares. Esse montante seria três vezes maior do que o valor real, o que faria com que o apartamento fosse mais caro do que qualquer outro em Nova York.
O valor da mansão na Flórida foi relatado como sendo de 739 milhões de dólares, ou seja, dez vezes mais do que uma estimativa razoável, segundo afirma a Procuradoria.
"Maior caça às bruxas de todos os tempos"
A defesa afirma que os relatórios financeiros eram legítimos, e que as propriedades de Trump seriam de fato de grande valor. "Isso não é fraude, são negócios imobiliários", disse a advogada de Trump Alina Habba, acusando o tribunal de Nova York de "abrir um precedente perigoso para todos os proprietários de imóveis no estado de Nova York".
Eles acusam James e Engoron de minimizarem o valor dos bens de Trump, e que não importavam as informações que constavam nos relatórios financeiros uma vez que elas supostamente seriam acompanhadas de um termo de isenção de responsabilidade, que explicitava que os dados não eram confiáveis.
Ao falar à imprensa que acompanhava o julgamento no tribunal nova-iorquino, Trump teceu fortes críticas ao que chamou de "julgamento infame", após ouvir a Promotoria descrevê-lo como um mentiroso contumaz.
Trump qualificou como uma "farsa" o julgamento, ao qual compareceu de maneira voluntária, e disse se tratar da "continuação da maior caça às bruxas de todos os tempos."
O pré-candidato à indicação do Partido Republicano para concorrer novamente à Presidência dos EUA disse que a promotora, do Partido Democrata, estaria apenas tentando impedir sua candidatura em 2024. "Não acho que o povo desse país vá tolerar isso", criticou, ao chamar James de "corrupta".
O ex-presidente acusou o juiz Engoron de ser um membro do Partido Democrata que usa o caso para interferir nas eleições de 2024. "Esse juiz deveria ser cassado" afirmou a repórteres em frente ao tribunal. "Vamos passar meses aqui com um juiz que já se decidiu. Isso é ridículo, esse juiz é um democrata, é um infiltrado. Fora isso, as coisas foram muito bem", concluiu.
As muitas dores de cabeça de Trump
Este é um julgamento sem júri, o que, segundo Engoron, seria uma exigência legal em casos em que o processo demanda não apenas dinheiro, mas também uma ordem judicial determinando o que o acusado deve ou não fazer. O processo inclui seis acusações, como conspiração, falsificação de registros de negócios e fraudes de seguros.
James quer impor multas no valor de 250 milhões de dólares e pediu que Trump seja proibido de realizar negócios no estado de Nova York.
Se confirmada a acusação de fraude empresarial, o republicano poderá perder não somente a Trump Tower, mas também suas outras propriedades no estado de Nova York, como campos de golfe e outros imóveis.
Estão relacionados como possíveis testemunhas no julgamento, além do próprio ex-presidente, várias pessoas de seu entorno, incluindo seus dois filhos mais velhos, executivos das Organizações Trump e seu ex-advogado Michael Cohen.
O processo por fraude empresarial é somente uma das muitas dores de cabeça do republicano. Ele já foi indiciado quatro vezes desde março, acusado de tentar reverter o resultado das eleições de 2020, de armazenar ilegalmente documentos confidenciais em sua mansão e falsificar relatórios financeiros relacionados ao pagamento pelo silêncio de uma atriz pornô com quem teria tido um caso extraconjugal.
Segundo o juiz Engoron, o julgamento em Nova York deve durar até dezembro desde ano.
rc (Reuters, AP)